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“O jogo”, por Marco Tanoeiro

“Fora Bolsonaro!”

Essa foi a frase dita pela jogadora de vôlei de praia Carolina Salgado Collet Solberg ao final de uma entrevista para a TV. Carol tinha acabado de conquistar a medalha de bronze no Circuito Nacional.

Em meus textos para o Hoje Diário tenho falado de algumas “Carolinas”. Já escrevi sobre a Carol de 10 anos, vítima de abuso sexual em casa e de ataques por parte da Igreja. Também escrevi sobre os milhões de Carolinas brasileiras que voltaram a sofrer com a fome. Num país desigual como o Brasil, sempre haverá uma Carolina merecedora de atenção especial. Infelizmente.

Voltando ao caso do “Fora Bolsonaro!”, Carol Solberg, como consequência da manifestação, foi denunciada pelo Subprocurador Geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Voleibol – cargo  público desconhecido pela grande maioria dos mortais – pela prática prevista nos artigos 191 e 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que determinam punição ao atleta que assumir conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva.

Pura hipocrisia.

Desde a redemocratização ocorrida em nosso país, o grito de “Fora Fulano” tem sido utilizado por todos aqueles que se mostram descontentes com seus governantes. De Fernando Collor até Michel Temer, sem exceção, todos os presidentes da República experimentaram esse tipo de manifestação. Por que seria diferente com Bolsonaro?

O “Fora Fulano” é nada mais que a representação clara e direta de um descontentamento imediato do governado com seu governante.

“Ah, mas lá não era lugar”, dirão.

Pois não há melhor lugar para um atleta demonstrar seu envolvimento político, seu olhar para a sociedade, do que o seu “campo de jogo”. Busquem nos arquivos da internet qual era a postura do jogador de futebol Sócrates, em plena ditadura. Vejam como se comporta o piloto de F1 Lewis Hamilton em relação ao movimento “Vidas Negras Importam”. Do passado, leiam sobre os Panteras Negras.

A verdade é que Carol Solberg está sendo atacada porque manifestou-se contrária ao Chefe do Executivo Federal. Não vi o subprocurador “sei lá das quantas” atuar quando Felipe Melo, do Palmeiras, rasgou elogios ao presidente. Tampouco vi invocarem a Lei Desportiva quando jogadores do vôlei masculino de quadra, ainda na campanha de 2018, fizeram o 17 com as mãos, seguido da tradicional arminha, numa clara alusão ao então candidato Jair Bolsonaro.

É o cala-boca. É pra servir de exemplo. E sendo a acusada uma mulher, temos aí a cereja do bolo.


Os detentores do Poder deveriam aprender ainda no berço que a democracia pressupõe ser criticado a todo momento pelos atos praticados, estejam eles certos ou errados. É do jogo.

Enquanto defensores de um ainda possível Estado Democrático, temos que empenhar nossos esforços no sentido de impedir que o destino de quem hoje grita “Fora Bolsonaro” não seja o mesmo daqueles que no passado tinham a ousadia de bradar “Abaixo a Ditadura”.

(Esse texto não expressa, necessariamente, a opinião do site HojeDiário.com)