Vivemos em uma sociedade embebedada pela individualidade; cada vez mais as relações que outrora foram sólidas se esvaziam em um cotidiano de crescente hostilidade.
Valores como empatia, solidariedade e amor ao próximo se perdem na busca desenfreada de valorização da individualidade, concorrência e disputa. Deste modo, somos obrigados a um estado permanente de força e perfeição.
Diante de julgamentos e da pressão de uma sociedade que se desenvolve na premissa da indiferença, escolher caminhar junto, se importar com os mais vulneráveis, lutar em defesa da justiça é uma escolha por resistência.
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Como sinalizo em diversas colunas, a dependência química é uma doença e, portanto, carece de cuidados de profissionais competentes e de políticas públicas eficazes. Entretanto, no seio da família, a dor é latente, as lágrimas recorrentes e o desespero uma triste realidade.
Quando um familiar ou amigo encontra-se em condição de dependência química, podemos escolher o abandono e julgamentos a escolha por caminhar junto, lutar junto e buscar ajuda junto.
A dependência química é um estado da vida, não a vida em absoluto; é um momento de caos, de fragilidade, de dor e desespero. É um momento que o usuário afeta a si próprio e seus familiares, onde as perdas são coletivas, onde, infelizmente o usuário e seus familiares recebem o carimbo de culpa, os julgamentos e a comum e perversa anulação.
É comum ouvirmos orientações de pais a seus filhos em romper as amizades com amigos em situação de dependência química. É uma preocupação amorosa de pais que observam a corrosão das drogas e procuram evitar esse drama em suas famílias. Entretanto, devemos nos sensibilizar para o acolhimento fraterno às pessoas em situação de uso compulsivo das drogas e não o abandono recorrente que transforma indivíduos em invisíveis sociais.
Amar é um ato de cuidado, pressupõe caminhar junto, acolher o usuário de drogas e procurar ajuda, abraçar nos momentos difíceis, solidariedade diante das dificuldades e não abandonar quando os obstáculos batem na porta.
Amar significa a escolha pelo afeto, abraçar nas dores, sorrir e celebrar nos momentos festivos. Nem sempre teremos coisas boas para celebrar e isso não significa que devemos abandonar aqueles que amamos quando o sorriso se esconde, as cores desaparecem, as lágrimas fazem morada, o caos parece premente e o desespero uma constância.
Amar significa se importar, não largar as mãos, tampouco a condescendência ao erro. Amar é um ato de coragem e um ato de rebeldia e resistência.
Quando um familiar e/ou amigo encontrar-se na máxima do caos da dependência química, apenas uma escolha estará a sua frente: acolher ou abandonar? Diante de sua escolha, os resultados da dependência química na vida do familiar ou amigo pode ser estendido ou atenuado, perpetuado ou rompido, pois também temos o poder de interferir de modo positivo ou negativo na vida daqueles que caminham conosco.
Eu escolhi o amor, escolhi o acolhimento, escolhi abraçar as dores, dividir as lágrimas e procurar ajuda. Escolhi não largar a mão, escolhi olhar para as pessoas não pela sua condição aparente, seja em face da dependência química, doença, problemas, ou quaisquer outras situações limites.
Escolhi olhar para meus iguais em sua condição de potência, escolhi o conforto do sorriso escondido entre lágrimas, a esperança da recuperação, mesmo diante da compulsão, procurar ajuda com os familiares, mesmo na resistência da dependência, caminhar junto, mesmo quando a solidão parece a melhor companhia.
Diante da crescente individualidade e indiferença, escolhi me importar. E você, qual é a sua escolha?
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)