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“Diga-me com quem usa drogas que eu te direi quem tu és”, por Felix Romanos

“Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és”. Certamente os leitores dessa coluna já ouviram esse conhecido ditado popular, entretanto, quero fazer algumas ressalvas a respeito dessa filosofia. Os dependentes químicos são socialmente rotulados, entretanto, esse adjetivo negativo a usuários de drogas e muitas consequências não são aplicadas a todos em conformidade.

O sargento da aeronáutica, Manuel Silva Rodrigues foi preso na Espanha em 2019 ao transportar 37 quilos de cocaína em um avião da comitiva presidencial, porém esse não é o tipo ideal do traficante clássico que temos em nosso imaginário, mas sim garotos das periferias urbanas do Brasil que transportam pequenas quantidades de drogas, e em sua maioria para consumo próprio.

Em novembro de 2013 a Polícia Federal apreendeu 450 quilos de pasta base de cocaína no helicóptero de uma empresa que pertencia a Gustavo Perrella (SD-MG), filho do senador Zezé Perrella (PTB-MG). Poucas horas antes da apreensão a aeronave fez um abastecimento de combustível na pista de Cláudio que pertence a Aécio Neves, ex-Governador de Minas Gerais, ex-candidato à presidência da república em 2014 e atual Deputado Federal por Minas Gerais.

Nem o deputado Gustavo Perrella, seu pai, o senador Zezé Perrella e tampouco o deputado Aécio Neves foram presos por tráfico de drogas. Eles muito menos configuram o imaginário social de traficante, mesmo com 450 quilos de pasta base de cocaína. Eles são políticos, “empreendedores” e muito bem assistidos nas suas relações sociais.

O problema das drogas do Brasil é crônico, e aqui vale outro ditado popular: “o buraco é mais embaixo”. Homens, brancos, ricos, normalmente quando abordados em suas loucas noites transviadas são tipificados como usuários, enquanto os garotos pobres e negros, quando abordados com trouxas de maconha na saída de um baile nas periferias de São Paulo, são classificados como traficantes e ingressam no sistema carcerário.

O pânico social sobre as drogas não deixa de esconder um preconceito de classe e raça. Aqueles que gritam contra o medo das drogas e os malefícios, talvez não protestaram contra Aécio Neves ou o sargento da aeronáutica.

Transportar 450 quilos de pasta base de cocaína pode não ser um problema se você estiver em um helicóptero pertencente a um deputado, filho de um senador e amigo do ex-governador. Agora se estiver com algumas trouxas de maconha nas periferias urbanas do Brasil, são “outros 500”.

São pesos e medidas diferentes porque são sujeitos sociais diferentes, desse modo, o problema das drogas não são elas em si, mas sim quem as porta, transporta, vende e consome. A imagem das cracolândias é condenada por todos. Entretanto, o consumo de cocaína e outras drogas nas boates requintadas da zona sul de São Paulo parece não ser problema.

Por essa razão, devemos nos desnudar da hipocrisia que se esconde na cortina de fumaça quando se debate as drogas no Brasil. O drama da dependência química é caótico para todos aqueles o testemunham. Entretanto, o ex-jogador Casagrande, o artista Fábio Assunção e o ex-cantor Rafael Ilha receberam um tratamento social diferenciado diante de suas lutas contra as drogas.

O problema da dependência química está associado também a origem de classe e raça. Homens pobres e negros não dispõem dos mesmos dispositivos sociais que brancos e ricos, e se você se aventurar na venda de drogas sendo amigo de deputado, filho de senador e amigo do ex-governador, tenha certeza de que seu tratamento será diferenciado.

Há uma diferença entre ser considerado dependente químico ou receber o adjetivo de “Nóia” ou “drogado”, e se há dúvida sobre a forma de tratamento, é fácil de resolver: Diga-me com quem usa drogas que eu te direi quem tu és.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)