Logo nos primeiros dias da quarentena imposta pela pandemia de Covid-19, o Jornal O Globo, em seu editorial, cobrava dos servidores públicos de todo o país aquilo que convencionaram chamar de “parcela de contribuição” para o enfrentamento da crise financeira que naquele momento se anunciava. Por “parcela de contribuição” o Jornal elencava desde redução salarial dos servidores até corte de benefícios adquiridos ao longo da carreira. Era um pequeno ensaio do que viria meses depois.
Na última segunda-feira, dia 10 de agosto, o Jornal Nacional, exibido pelos mesmos donos do Jornal O Globo, reproduziu, em forma de matéria, uma das mais criminosas peças de propaganda pró “reforma administrativa” do Governo Federal que se tem notícia, em detrimento da verdade e principalmente da relevância do serviço público prestado em todo o país.
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Baseado em um “estudo” do Instituto Millenium, a matéria exibida em rede nacional procura induzir a população a acreditar que setores como saúde e educação recebem pouco investimento governamental porque um grande volume de recursos financeiros são direcionados para pagamento de servidores. O instituto é um centro de promoção do liberalismo econômico e tem entre seus fundadores o atual Ministro da Economia Paulo Guedes.
A matéria cita, por exemplo, que os salários pagos a todos os servidores públicos do país representa 13,7% do seu Produto Interno Bruto, enquanto os gastos com saúde ficam em 3,9% e com educação 6%. Isso é uma falácia! “Terraplanismo Econômico”, como bem disse em seu blog o Professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) José Oreiro.
Doentes não tratam a si mesmos nas UBS e nos hospitais. Alunos não dão aulas para si mesmos nas escolas e universidades. Os gastos com saúde e educação envolvem, além do físico e do material, a remuneração do trabalho prestado pelo servidor. Desvincular tal despesa do cômputo geral é um claro exercício de má-fé.
Mas não é só isso.
Em outra parte da matéria temos a informação de que servidores públicos ganham até 100% da remuneração paga pela iniciativa privada. Por isso, tais remunerações deveriam ser revistas. Ora, em recentes relatórios do Banco Mundial, os dados demonstram que o servidor brasileiro ganha, em média, 8% a mais do que trabalhador privado, sendo que metade vive com menos que três salários mínimos mensais. Mais uma falácia!
Importante frisar que os maiores salários do funcionalismo estão justamente nos setores em que não há correspondência com a iniciativa privada, como por exemplo a Magistratura, o Ministério Público e os comandos Militares. Mas aí prevalece o silêncio.
Caras leitoras, caros leitores, não há Estado forte sem um alto grau de excelência e eficiência nos serviços prestados. Não há serviço público de excelência sem um conjunto de servidores treinados e constantemente motivados. Logo, não há Estado forte sem que se valorize e reconheça a grandeza da força de trabalho de seus servidores. O resto é Estado mínimo!
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site HojeDiário.com)