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“Igreja S/A”, por Marco Tanoeiro

A Igreja Católica Apostólica Romana deveria deixar o Brasil!

Deveria doar aos pobres todo o seu patrimônio material amealhado nos últimos 520 anos e dar adeus a estas terras. Ao menos essa deveria ter sido a orientação dada à Santa Sé pelo Bispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo. Explico.

Nos últimos dias o Brasil acompanhou a história de uma criança de São Mateus-ES. Violentada dos 6 aos 10 anos, a menina  conseguiu interromper legalmente a gravidez provocada pelo estupro. Após um procedimento de mais de 17 horas de duração, encerrou-se o sofrimento físico da criança.

Uma série de manifestações bizarras permeou todo o evento. Porém, entre protestos fundamentalistas e vazamentos de informações sigilosas por extremistas, a declaração de Dom Walmor foi uma das mais impactantes. O clérigo classificou, tanto o estupro quanto o aborto realizado, como “crimes hediondos”. Colocou um crime e um remédio jurídico no mesmo patamar.

Dom Walmor não é qualquer um. Arcebispo de Belo Horizonte, preside a CNBB –  Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Suas opiniões têm peso. Ao equiparar atos tão díspares, induz a sociedade a ser complacente com o estupro, argumentando que a vida gerada compensaria o abuso praticado. Sugere também falsa simetria entre os atos, fazendo com que a vítima seja vista, ao fim, como vilã.

Fantasias sexuais com crianças são comuns aos adeptos da pedofilia. Natural, portanto, que entre um ato criminoso como o estupro e outro legal, como o tipo de aborto realizado, Dom Walmor tenha preferido dar mais peso ao segundo. Afinal, não me lembro de nenhum caso de aborto legal com participação ativa de membros da Igreja. Não digo o mesmo sobre a pedofilia…

Quando uma empresa multinacional que produz bens ou serviços não concorda com a política fiscal ou com o conjunto de normas legais de um país, comum que encerre suas atividades, demita seus funcionários, desative suas plantas e parta em busca de condições mais aceitáveis em outro lugar. 

Por que tem que ser diferente com uma empresa que atua no mercado da fé?

O Brasil não é o Vaticano. Não há um Estado dentro de outro Estado por aqui. Estupro é crime. Aborto em caso de estupro, não. Se a instituição Igreja não concorda, que batalhe pela mudança da lei. Já fizeram isso pra conseguir imunidade fiscal. Sabem o caminho. 

Dom Walmor fala em nome e defende os interesses dessa verdadeira empresa chamada Igreja. Se entende que a interrupção da gravidez de uma criança de 10 anos, vítima de estupro, é um crime hediondo e não pode mudar isso, então não há mais como manter essa empresa no Brasil. Não vale o investimento.

De minha parte, prefiro que fiquemos no Brasil com a Igreja original, de raiz, das catacumbas. Com a Igreja daqueles que muitas vezes foram perseguidos por não se curvarem aos apelos do Poder. A Igreja de Dom Pedro Casaldáliga, de Dom Paulo Evaristo Arns, de Dom Helder Câmara, de Dom Mauro Morelli, de Padre Júlio Lancelotti, de Frei Betto, de Leonardo Boff. A Igreja do Povo, para o Povo!

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site HojeDiário.com)