Nesta sexta-feira (25), na Comissão Parlamentar de Inquerito (CPI) do Senado Federal, que investiga as ações do Governo Federal no período da pandemia do coronavírus (Covid-19), um servidor do Sistema Único de Saúde (SUS) e um deputado federal fizeram denúncias sobre a compra de vacinas.
O deputado federal Luis Miranda, chorando, afirmou que durante um encontro no Palácio da Alvorada, realizado no mês de março deste ano, o presidente Jair Bolsonaro citou nominalmente o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, ao ouvir denúncias de irregularidades e corrupção na compra de doses do imunizante Covaxin.
Mesmo informado sobre as denúncias, Bolsonaro nada teria feito para impedir o suposto esquema de corrupção.
Questionado pela senadora Simone Tebet no depoimento desta sexta-feira (25), sobre o nome do deputado citado por Jair Bolsonaro como o responsável pelo esquema, Luis Miranda fez a revelação.
“Eu sei o que vai acontecer comigo. A senhora sabe que foi o Ricardo Barros que o presidente falou. Foi o Ricardo Barros que o presidente falou”, declarou Miranda, chorando.
“Eu não me sinto pressionado para falar. Eu queria ter dito desde o primeiro momento, mas é porque vocês não sabem o que eu vou passar. Apontar um presidente da República, que todo mundo defende como uma pessoa correta honesta, que sabe que tem algo errado, ele sabe o nome, sabe quem é e não faz nada por medo da pressão que ele pode levar do outro lado?”, prosseguiu o parlamentar.
No encontro do dia 20 de março, que estiveram presentes Luis Miranda e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, foi revelado ao presidente da República supostas “pressões atípicas” relacionadas à liberação do adiantamento de pagamento de 45 milhões de dólares pelo primeiro lote de vacinas Covaxin, do laboratório Bharat Biontech, representado no país pela Precisa Medicamentos. O repasse seria feito em nome da Madison Biotech, uma offshore em Singapura.
Cronologia
Durante seu depoimento à CPI, o servidor do SUS Luis Ricardo apresentou uma cronologia do processo de negociação de compra da Covaxin. Ele disse que no dia 16 de março recebeu um e-mail com o pedido de licença de importação para as vacinas. Dois dias depois, o setor de informação teria recebido um link do Dropbox com dados e documentos, incluindo o chamado “invoice” (que é uma espécie de fatura). No dia 22, ele teria recebido outro e-mail, na qual estariam anexados vários documentos das empresas envolvidas no negócio.
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O servidor contou que na análise desses documentos foram encontradas informações diferentes daquelas do texto original do contrato. Algumas dessas divergências: a forma de pagamento, a quantidade de doses e a indicação de empresas intermediárias. Por isso, foi solicitada a correção dessas discrepâncias. No dia 23 de março, relatou ele, as correções foram recebidas. Luis Ricardo informou que no dia 24 de março ele recebeu a convocação do Ministério Público para esclarecer as supostas irregularidades da negociação do governo nessa compra.
Propina
Em um dos áudios exibidos na reunião da CPI, o servidor Luis Ricardo faz referência a um suposto pedido de propina no processo de compra da Covaxin. Segundo o servidor, um colega seu teria comentado sobre pedido de propinas feito por “alguns gestores”. Após ouvir esse áudio, o presidente da CPI, Omar Aziz, manifestou a intenção de convocar esse outro servidor. O Randfolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI, afirmou que a convocação desse servidor pode ser votada na próxima quarta-feira (30).
Líder do governo na Câmara dos Deputados fala sobre o caso
O deputado federal Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, se manifestou através das redes sociais, sobre as acusações na CPI.
“Não participei de nenhuma negociação em relação à compra das vacinas Covaxin. Não sou esse parlamentar citado, A investigação provará isso. Também não é verdade que eu tenha indicado a servidora Regina Célia como informou o senador Randolfe. Não tenho relação com esse fatos”, escreveu Ricardo.
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