Uma sentença do botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que pesquisou fauna e flora brasileiras há mais de duzentos anos, tornou-se famosa: “ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil.” Mário de Andrade adaptou a frase em “Macunaíma” e fez com que ela fosse repetida ao longo do livro: “pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são.” Pela forma em que foi adaptada, ela lembra o jeito de falar do mestre Yoda, em “Star Wars”. Como o livro foi publicado bem antes da franquia ser primeiramente exibida, é mais provável que Mario de Andrade tenha influenciado George Lucas, ou que tenha sido apenas uma coincidência.
Sem querer abusar da paciência de quem lê este artigo, gostaria de traçar mais um paralelo entre diferentes produções. Assim como em Macunaíma em que nosso herói percorre o país entre lugares distantes aparentemente em poucos minutos, em “Os Simpsons”, Bart faz o mesmo quando desaparece no Rio de Janeiro e aparece supostamente no Amazonas, engolido por uma cobra gigante, em pouquíssimo tempo. Para nós brasileiros, a série quando ambientada no Brasil pode ser irritante porque é carregada de lugares-comuns e de doses altíssimas de preconceito.
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Voltando ao tema das formigas-cortadeiras, o temor de que elas pudessem acabar com o Brasil, volta, metaforicamente, encarnado na figura do atual Presidente. Ao invés das saúvas, temos agora um político que se esforça em destruir o país desde quando se tornou inquilino do Palácio da Alvorada. Ele mesmo disse nos Estados Unidos, ao lado de Olavo de Carvalho e Sérgio Moro, que era necessário destruir muito do que havia no Brasil antes de construir qualquer coisa. A intenção tem se mostrado efetiva: desmatamento; cortes na educação e na ciência; entrega do patrimônio nacional; desemprego; baixo desempenho da economia; precarização da proteção social etc. Além de um combate à pandemia que mais funciona como política de extermínio e de corrupção do que de proteção à vida.
As formigas-cortadeiras causavam tantos danos às plantações e pastos que a conclusão era da incompatibilidade da existência dessas “pragas” e as atividades agrícolas. No caso de Bolsonaro, além de representar a chegada das milícias ao poder central, sua presença no governo representa a destruição do Brasil, como as saúvas aos olhos do francês. Ou, para concordar com o herói sem nenhum caráter, pouca saúde e muito bolsonarismo os males do Brasil são.
(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)