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“A televisão me deixou burro”, por Luci Bonini

“Muito burro demais… Agora todas as coisas que eu penso me parecem iguais”.

Este é um trecho da música Televisão dos Titãs e é bastante verdadeira se atentarmos para o papel da tevê nos dias atuais.

A Constituição Federal de 88 (CF/88), em seu artigo 221 afirma que as emissoras de rádio e televisão devem dar preferência a programas com finalidade educativa, artística, cultural e informativa, mas infelizmente não é isso que vemos nos canais abertos.

Reality shows se espalham pela tevê brasileira provocando mais comentários do que a própria realidade caótica em que vivemos, discute-se muito sobre as brigas de pessoas, peças de um jogo, do que os problemas nacionais que afetam os destinos da população brasileira.

Este tipo grotesco de espetáculo tem suas origens nos programas de jogos no rádio e nos programas de calouros. Ao colocar pessoas do povo na cena, a televisão cria um grau maior de semelhança entre o público e os ‘atores’. Cada personagem dentro de um reality show procura desenvolver seu ‘papel’ de modo a sensibilizar um grupo de pessoas: há o mau caráter, a boazinha, o fofoqueiro, o excluído etc. Como num jogo, eles sabem o que podem fazer com que seu personagem se mantenha mais tempo no tabuleiro.

A CF/88, no mesmo artigo afirma que a televisão deve promover o respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família, mas sabemos que não é bem isso que acontece.

Esses casos me fazem lembrar uma história: na Roma antiga, a cidade começou a ficar superpopulosa porque muitos deixaram o campo para tentar a vida na cidade. O crescimento urbano gerou problemas sociais e com medo de uma revolução, o imperador criou um programa para divertir o povo romano: no Coliseu, o circo romano, aconteciam as lutas dos gladiadores com leões ou outras feras caçadas na África ou mesmo com seres humanos, no caso os cristãos, pois eles eram contra a religião oficial de Roma.

Esta estratégia ficou conhecida como a política ‘panem et circences’ (pão e circo). Esta carnificina demorava o dia todo, por isso ao longo do evento distribuíam-se alimentos (trigo e pão). O final do espetáculo era marcado pelos corpos despedaçados na arena e os vencedores eram carregados triunfantes pelas ruas da cidade.

O senado romano chegou a colocar 175 feriados no ano para promover estes espetáculos, porque assim o povo se divertia, não passava fome e esquecia os problemas comentando todas as façanhas e tragédias acontecidas naquele dia ou semana. Isso era uma forma de manter a população sob controle, esquecendo-se dos problemas de saúde, habitação e emprego e da política também.

Qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência! Mudam-se os tempos, mas as manobras para nos emburrecer continuam as mesmas.

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)