PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

“Hedonismo na capital paulista”, por Marcelo Candido

São Paulo sempre foi o lugar preferido daquele sujeito. Uma vez que seus pais lhe deixaram uma grande fortuna, nunca precisou fazer do trabalho um meio de sustento obrigatório, algo que facilitou sua decisão de entregar-se a todos os gozos possíveis até o final de seus dias. Não se importava com a opinião das pessoas, tampouco se o dinheiro acabaria, pois, em seus cálculos, mesmo que gastasse muito, o muito seria pouco para quem julgava bastante viver 60 anos e por não ter herdeiros nem grandes ambições.

Curiosamente, não passava pela sua cabeça despojada fazer caridade, ajudar pessoas ou qualquer outra atitude moralmente indicada em uma sociedade tão desigual. Importava apenas desfrutar do prazer de encontrar lugares e pessoas tão ou mais extravagantes e livres do que ele próprio. Não era dado a aquisição de bens duráveis. Carro ele desprezava, pois achava que atrapalhava seu gosto pelo consumo amazônico de drogas e bebidas. Moradia ele tinha. Adorava ambientes pouco iluminados, cheirando a álcool e de preferência esfumaçados.

Todo relacionamento era fugaz e preferencialmente se dava uma única vez. Tudo o que durava lhe sugeria encrenca porque poderia configurar compromissos que ele simplesmente evitava. Não havia dia e noite. Apenas dia, que para ele significava o desfrute do período que marca uma unidade de tempo definida em 24 horas. Acordar cedo, tarde, de madrugada, ou dormir em qualquer um desses momentos era indiferente, pois dependia apenas do início ou do fim de suas muitas aventuras que eram de puro hedonismo.

Das artérias preferidas da capital, a que mais lhe excitava cortava o espigão da Avenida Paulista a partir da Praça Roosevelt até chegar na Rua Estados Unidos através da qual se dirigia à Vila Madalena, um lugar de puro êxtase. Não havia botequim pé sujo que escapasse da sua atenção, tampouco as outrora luzes de neon que o tempo e a lei extinguiram em São Paulo. Um dia, saturado pelos efeitos de tantos excessos, não acordou.

Ao serem lidos os documentos que indicavam o destino dos bens que lhe restaram, para a surpresa de ninguém, todos os pulgueiros do centro da cidade ficaram um pouco ricos, porém, tristes pela ausência inestimável de quem foi o maior amigo de todas as pessoas desventuradas que davam vida àqueles lugares contraditoriamente lúgubres que só São Paulo tem.

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)