A sociedade contemporânea alcançou avanços nas mais diversas áreas do conhecimento, em consequência, na área da medicina, doenças que dizimaram milhões de pessoas foram vencidas com o desenvolvimento de diagnósticos, vacinas e tratamentos adequados.
O vírus da Covid-19 foi o último grande dilema para a medicina moderna, também responsável por colocar a humanidade no desafio da sobrevivência coletiva e na busca acelerada pela cura. Em pouco mais de dois anos, quase 15 milhões de pessoas em todo o mundo morreram em decorrência do novo coronavírus, porém, sem o desenvolvimento nas pesquisas que resultaram nas vacinas e demais cuidados resultantes dos avanços da medicina, certamente esse número seria muito maior.
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Da máquina de Turing em 1936, ao Sistema Mycin de 1972, somados ao desenvolvimento da engenharia computacional, nanotecnologia, neurociência, matemática e outras áreas, chegamos a Inteligência Artificial (IA) como uma das mais importantes revoluções da história humana, nesse mesmo cenário nos deparamos com o dilema: quais os desafios e possibilidades do uso da IA na área da medicina, particularmente, no tratamento contra o câncer?
Não há dúvidas de que a IA ocupará cada vez mais um papel relevante em nossa sociedade, há ainda muitas áreas que serão afetadas por sua chegada, daí o debate ocupar as preocupações da ética, legislações, política, economia, entre outros, entretanto, me resguardo aqui a uma reflexão específica sobre os desafios e possibilidades do uso da IA na área da medicina, em particular, no tratamento contra o câncer.
No tocante aos desafios, é necessário destacar a limitada contribuição da IA no tratamento e acompanhamento das doenças, ela é incapaz de substituir a sensibilidade do médico na identificação das condições clínicas a partir da singularidade de cada paciente, em face da observação, do toque e do acompanhamento médico no tratamento de seus pacientes.
Quanto as possibilidades, a IA agrega conhecimentos de ramos distintos, os sistematiza com uma velocidade incomparável, estabelece análises de protocolos e facilita os conhecimentos disponíveis na literatura, entretanto, o desafio reside naquilo que é a condição elementar do profissional, o tratamento em si no consultório, a maneira como cada paciente apresenta sua forma particularmente singular de responder ao tratamento, a interpretação da toxicidade de cada paciente, condição insubstituível pela Inteligência Artificial ou qualquer outra tecnologia.
No caso específico da oncologia, a ação do médico alcança um lugar que a IA não consegue acessar, a análise dos efeitos colaterais de cada medicação, o modo singular do tratamento em cada paciente, suas condições clínicas e as questões da subjetividade humana são condições elementares da atuação médica. Nestes casos, a IA apresenta seu limite.
Por outro lado, exames laboratoriais, como Raio X, eletrocardiograma ou tomografia podem ser ações contributivas da IA na medicina, entretanto, a interpretação médica e a sensibilidade necessária na oncologia e tratamento do câncer são questões em que IA não terá um papel de relevância.
Esse debate certamente ganhará novos capítulos, porém, insisto que a IA ou qualquer outra tecnologia, por mais contributivas que sejam não serão capazes de atravessar aquilo que é próprio de cada médico, o toque em seus pacientes, a sensibilidade em observar suas subjetividades, o poder da escuta e a análise de resposta a cada tratamento. Essa é uma condição elementar no tratamento contra o câncer, uma ação propriamente humana e insubstituível.
(Este texto não reflete, necessáriamente, a opinião do Portal HojeDiario.com).