As festas de fim de ano costumam marcar um período de confraternização, reencontros e celebrações intensas. Mas, do ponto de vista da saúde, esse também é um momento crítico: os excessos dessa época representam um dos maiores gatilhos para descompensações clínicas, aumento de emergências médicas e até agravamento de doenças crônicas silenciosas.
E, para quem vive o dia a dia da medicina, especialmente da oncologia, esse período traz lições importantes sobre prevenção, autocuidado e responsabilidade com o próprio corpo.
1. Excesso de álcool: o risco muitas vezes ignorado
O consumo de álcool dispara entre Natal e Ano Novo. O problema é que o álcool não é apenas uma substância socialmente aceita — é um carcinógeno classe I comprovado. Ou seja: quanto maior o consumo, maior o risco de câncer, especialmente de boca, esôfago, fígado e cólon.
Além disso, o álcool:
- Desidrata e aumenta risco de arritmias.
- Descompensa quadros hepáticos e metabólicos.
- Eleva risco de acidentes e traumas, inclusive domésticos.
Moderação é palavra-chave — e alternar com água não é frescura, é fisiologia.
2. Exageros alimentares e o impacto imediato na saúde
A combinação de comidas gordurosas, excesso de sal, sobremesas ricas em açúcar e repetição das refeições ao longo de vários dias gera um “coquetel metabólico” perigoso.
Os efeitos mais comuns que vemos nos pronto-atendimentos nessa época:
- Crises de hipertensão.
- Pancreatite aguda por gordura + álcool.
- Descompensação de diabetes.
- Azia, refluxo e desconfortos digestivos severos.
Um prato equilibrado não estraga a festa — e pode evitar um réveillon no hospital.
3. Privação de sono: um inimigo silencioso
O corpo humano tem ritmos biológicos que não entendem feriado. Dormir pouco — especialmente vários dias seguidos — aumenta cortisol, piora imunidade, altera humor e mexe com o apetite.
Para quem já tem tratamento médico em curso (incluindo oncológicos), dormir mal atrapalha:
- resposta imunológica,
- cicatrização,
- tolerância a medicamentos,
- controle de dor.
- O sono não é luxo: é tratamento.
4. Infecções respiratórias: o “boom” de dezembro a janeiro
Com aglomerações, viagens e ambientes fechados, vírus respiratórios crescem rapidamente nessa época. Pacientes imunossuprimidos — inclusive oncológicos — têm risco maior de complicações.
Medidas básicas ajudam:
- Ventilar ambientes.
- Evitar compartilhar copos/objetos.
- Usar máscara em caso de sintomas.
- Manter vacinação atualizada (COVID, influenza, pneumocócica, quando indicada).
5. Exposição solar: dezembro é o mês do melanoma
Final de ano costuma ser sinônimo de praia e piscina. A radiação UV está em pico no verão brasileiro, e queimaduras mesmo leves aumentam risco de melanoma e câncer de pele não melanoma.
Regras essenciais:
- Filtro solar FPS 50, reaplicado a cada 2 horas.
- Evitar sol das 10h às 16h.
- Óculos, chapéu, roupa com proteção UV.
O bronze passa. O dano celular fica.
6. Saúde mental: o fator invisível que mais adoece em dezembro
Fim de ano intensifica emoções: cobrança, comparação, luto, sensação de fracasso ou pressão por produtividade.
Isso aumenta:
- ansiedade,
- depressão,
- compulsões,
- consumo de álcool e comida como escape.
Cuidar da saúde mental também é prevenção.
Festas de fim de ano são celebrações importantes — mas não precisam significar abandono da própria saúde. Prevenir, equilibrar e moderar não tiram a magia da data: ao contrário, garantem que você chegue ao Ano Novo bem, inteiro e com energia para viver o que vem pela frente.
Como médicos, repetimos todos os anos a mesma frase que parece simples, mas é profundamente verdadeira: saúde não entra de férias — nem em dezembro.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal HojeDiario.com).




