A pandemia nos apresentou novos paradigmas. De um lado, trouxe dores, caos, ruínas e perdas. De outro, nos condicionou – como qualquer outra crise – a encontrarmos a coragem e resiliência necessárias para que vivêssemos novos projetos e horizontes.
Em meu caso, estou iniciando um projeto que hoje move a minha vida com o valor ímpar de ressignificar a minha experiência de 16 anos de dependência com as drogas, com o genuíno intuito de assistir meus iguais que ainda estão no uso e suas respectivas famílias.
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Pensei que o primeiro passo dessa jornada seria a produção de meu livro que deverá ser lançado na segunda quinzena de novembro, se Deus quiser.
O objetivo do livro será oferecer auxílio e ferramentas para esperançar as famílias que testemunham os dilemas da dependência química dentro de suas casas e contribuir para minimizar seus sofrimentos, onde muitas vezes a figura da mãe é o último elo da corrente a permanecer firme na fé da recuperação.
Não será um livro autobiográfico, mas sim de relato de experiências, onde cada capítulo irá descrever a trajetória de uma pessoa que atravessou o mundo das drogas, perdeu, caiu, mas decidiu vencer e cada dia vence a luta contra as drogas.
O que há em comum entre todos protagonistas que estarão no livro, além, é claro, da superação às drogas? Cada um deles carrega a experiência de viver nas ruas em decorrência do uso de drogas e todos recomeçaram suas vidas a partir do absoluto zero e chegaram a posições de destaque profissional!
Isso significa que quando assumimos com todas as nossas forças o real desejo de vencer às drogas, e se esse desejo for suficientemente forte para despertar a disposição de fazer o que tiver que ser feito, acredite: se alguém um dia saiu das mesmas condições que você – as vezes até piores – e chegou aonde você gostaria de estar, você também pode. Sim, é possível!
Recebi com muita honra e carinho o convite do Grupo Hoje de comunicação, para escrever essa coluna semanal aos sábados. Esse desafio se antecipa ao livro e passa a ser o primeiro passo que estou dando neste novo propósito que assumi para minha vida.
Em cada texto dessa coluna, irei problematizar as minhas experiências com as drogas, fraquezas, erros e acertos, a fim de que as famílias que vivem essa experiência em seus lares, possam se sentir confortáveis e amparadas nesse espaço.
Parabéns Grupo Hoje por oportunizar um espaço para discutir um problema de urgência nacional.
Espero em Deus agregar de alguma forma na vida das famílias que estão desestruturadas e com o sentimento de impotência latente. Essa coluna só terá sentido se impactar a vida de alguém, se fizer sentido à realidade vivida com as drogas e impulsionar às mudanças necessárias.
Tenho fé e esperança de que em algum tempo eu possa receber os feedbacks da significativa contribuição dessa coluna. Ao descortinarmos os problemas com as drogas e encará-los de fato, podemos juntos, sempre juntos, somar forças para a recuperação.
Antes de encerrar, preciso me apresentar:
Eu também usei drogas, muitas drogas. Iniciei com a maconha na adolescência, em seguida conheci a cocaína, foi amor à primeira cheirada. Poucos meses depois tive meu primeiro contato com o crack, uma estrada livre para a destruição!
Me afastei dos bons amigos, abandonei os estudos, perdi trabalhos e renda, desestruturei minha família, tive overdoses, morei por quase um ano na Cracolândia, cometi pequenos furtos, fui preso, passei por 12 internações, e tantas outras experiências que irei compartilhar nos próximos sábados.
Aos 33 anos vivenciei uma experiência que foi determinante para o meu recomeço (contarei sobre ela em outra coluna).
Hoje, passados um pouco mais de doze anos, interpreto essas lembranças a partir de uma espiritualidade acolhedora, serena, amorosa, e da potência da força que existe em cada um de nós.
A relação com meus familiares é plena, resgatei o vínculo com bons amigos, estabeleci novas amizades, casei-me com uma mulher incrível, temos dois lindos filhos e juntos construímos uma empresa sólida.
O mais louco de tudo isso é que nem nos melhores sonhos eu poderia imaginar que um dia viveria tais maravilhas.
Para crescer é necessário dias de luto e de luta. Não dá para evitar isso, nem pegar atalhos. Tem que passar pelo funil da vida. Se você está em situação limite com as drogas ou tem algum familiar em condição semelhante, peça ajuda.
Eu me coloco em profunda disposição, solidariedade e oração, para que juntos encontremos forças na iniciativa do primeiro passo de um verdadeiro recomeço e para os demais degraus de sua plena recuperação.
Para nascer uma nova pessoa, é preciso que a velha morra. Você está disposto?
Sinta-se em liberdade de entrar em contato através do Instagram @felixromanos.
(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)