A minha experiência pessoal com as drogas, somada as histórias de pessoas que tem me procurado a partir dos textos nessa coluna e aos relatos dos protagonistas de um livro que estou produzindo e será publicado no próximo mês, me permite realizar algumas inferências sobre os pedidos silenciosos de socorro dos usuários de drogas.
Analisar os impactos da dependência química a partir do estágio avançado do uso é o caminho mais percorrido por aqueles que se colocam nesse debate, entretanto, quero convidá-los para que juntos possamos estar atentos aos primeiros pedidos de socorro, muitas vezes silenciosos.
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Em muitos casos, os pedidos de ajuda são silenciosos e não ficamos atentos a eles, pois não reconhecemos sinais de perigo, pois no imaginário social, os impactos maiores com as drogas estão ligados mais a situações extremas.
Conheço relatos diversos de pedidos de ajuda tímidos, mas de uma enorme grandeza para quem o faz. Sem saber como se manifestar, é comum que o usuário peça companhia em períodos do dia, pois sabe que sozinho pode recorrer às drogas, mas sem manifestar explicitamente o motivo da companhia, os compromissos, as agendas e atividades diversas não nos permitem passar tempo com as pessoas.
Devemos sempre nos perguntar porque alguém me ligou, mesmo sem uma razão aparente. Porque quer sempre estar em companhia? O que há por trás de uma ligação ou pedido de algumas horas juntos?
Nem todos se comunicam verbalmente e, na dificuldade de serem compreendidos, acionam dispositivos para uso. Isso não pressupõe culpa de amigos e/ou familiares, mas acende um sinal de alerta.
Diante de uma sociedade cada vez mais individualista, onde o coletivo é suprimido pela força do indivíduo, é necessário que pensemos sobre a necessidade de passar tempo com os amigos, familiares e as pessoas que amamos.
Nas redes sociais, somos todos felizes e essa imagem ideal de prazer, realização e sucesso, em muitos casos, é irreal.
E fora das redes sociais, como você de fato está? Como tem elaborado os fracassos da vida, os desafios cotidianos e a permanente pressão de uma sociedade individualizada?
Quem de fato tem coragem de dizer que fracassou, recaiu e precisa de ajuda? Quem de verdade tem coragem de tirar a capa de Super-Homem e Mulher-Maravilha e se reconhecer vulnerável e dependente de ajuda?
Diante da latente insensibilidade, os pedidos de ajuda ocorrem de modo silencioso e tímido e sem receber acolhimento, ajuda, atenção, companheirismo e compreensão, muitos ampliam sintomas de ansiedade, depressão, consumo de álcool e outras drogas.
Quando de fato conseguimos enxergar o que está acontecendo e ouvir os pedidos de ajuda, a situação tende a estar mais grave e os impactos, em consequência dessa fase, são realmente mais duros.
Que sejamos sensíveis e corajosos para tirarmos as capas e máscaras que nos prendem na falsa ilusão de permanente sucesso. Que nossos pedidos de ajuda sejam ouvidos, nossas dores sentidas e nossos dramas compreendidos, pois nada nos faz mais humano do que o acolhimento à condição humana.
Se você encontra-se em situação de risco e não possui força ou coragem para gritar socorro, eu empresto a minha voz para que juntos, sempre juntos, façamos coro por dias melhores.
Felix Romanos
Instagram: @felixromanos
(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)