Dando continuidade na iniciativa de homenagear mulheres durante todo o mês de março, na coluna de hoje irei relatar a história de uma mulher que alcançou a superação, plenitude a emancipação através dos estudos.
Gislaine Koch é psicóloga com pós-graduação em Neuropsicologia e Saúde Mental e Mestranda em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo. Quem acompanha uma carreira dedicada aos estudos, não imagina que por muitos anos Gislaine foi dependente química e foi justamente a educação que se transformou em seu pilar de salvação.
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Seu compromisso ético com a pesquisa é um destaque de sua identidade, somado às diversas horas que se dedica em leituras na biblioteca. Gislaine é uma mulher séria, com perfil intelectual e profundo respeito às categorias de análise. Nenhum de seus argumentos se perdem nos achismos típicos do tempo presente, mas sim, em profundas e densas correntes teóricas.
Oriunda de uma família conservadora, pais honrosos, valorosos ao papel do trabalho e com profundos valores religiosos, as censuras fazem parte de seu cotidiano, ao mesmo passo que as descobertas tomavam o seu imaginário.
Sua história com as drogas é muito semelhante a de muitas outras pessoas que ingressam por intermédio de curiosidade e desejo de pertencimento a grupo de amigos. Para Gislaine, com o objetivo de ser aceita em um grupo de amigos, ela ingressa nas drogas e se apaixona por seu primeiro amor, um homem com quem nutre experiências mais profundas com as drogas e que tornar-se-ia pai de seu filho.
Juntos, eles conhecem os prazeres do corpo e a maternidade. Juntos eles iniciam Gislaine no universo das drogas, primeiramente com a maconha, depois com artane. Com dificuldades com a autoimagem, convive com os amigos “descolados”, onde a droga é uma rotina, mas para ela, passa a ser companheira.
Álcool, maconha, artane fazem parte de sua rotina, até a chegada do crack, após a súbita morte do pai de seu filho. Durante o luto, elabora a condição de mãe solo, mas no mesmo ano que o Brasil se sagra Tetracampeão do Mundo em 1994, entre rojões, gritos, pulos e festas, Gislaine atravessa sua primeira brisa com o crack. Sua viagem solitária foi tão intensa e profunda que lhe deu prazeres ainda não sentidos e por tal razão, queria mais. Por buscar mais, tornou-se dependente do crack.
Ausente dos cuidados do filho, com os vínculos familiares fragmentados e em profunda depreciação de sua própria identidade, Gislaine procura ajuda, após o socorro da mãe, e começa o processo de recuperação, inicialmente clínico, seguido de internação no Instituto do Padre Aroldo, que durou um ano.
Durante a internação, Gislaine elabora seu autonhecimento, se entrega às reuniões dos Narcóticos Anônimos e Amor Exigente e há 14 anos está sóbria, sem consumo de nenhuma substância que altere seu estado de consciência, sem álcool ou outras drogas.
Em decorrência de sua entrega no tratamento no Instituto do Padre Aroldo, Gislaine ingressa no curso de psicologia, em seguida, realiza diversas especializações sobre dependência química e saúde mental e hoje ocupa um papel de destaque no debate contra as drogas.
Gislaine é a tradução real da educação libertadora defendida por Paulo Freire, uma educação que redimensiona o papel do oprimido e o transforma em agente de luta contra opressão. Sua luta contra as drogas é destacável, sua dedicação à pesquisa e docência é um ato de coragem e orgulho. Aquela menina que na adolescência procurou as drogas como refúgio, hoje, décadas mais tarde, transformou-se na menina atrás dos livros, a menina que se libertou no conhecimento, que se emancipou na literatura e que, no conhecimento, milita para resgatar outras vidas.
A coluna de hoje, embora alusiva a história de Gislaine Kock é uma homenagem a todas as mulheres que lutam, carregam consigo a marca da resistência, resiliência, força, esperança e fé.
Que todas as mulheres possam se inspirar em Gislaine Koch: A MENINA ATRÁS DOS LIVROS!
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)