Com a presença maciça dos aparelhos celulares na vida da população brasileira, é comum perceber o quanto eles permanecem em uso mesmo quando pessoas estão reunidas em torno de uma mesa de jantar para supostamente estarem juntas. Digo supostamente porque mesmo que à mesa estejam, por exemplo, seis pessoas, na verdade participam muitas outras por força do seu ingresso na roda, não pelas portas da casa ou do restaurante, mas participando através dos muitos acessos oferecidos pelas redes digitais ou aplicativos de mensagens. Claro que não participam da comilança, mas das conversas às vezes sim.
Os smartphones fazem parte até das conversas presenciais quando permanecem sendo utilizados enquanto a outra pessoa está falando. É comum ouvir que fazer as duas coisas ao mesmo tempo não atrapalha em nada. Ora, como não atrapalha? Então quer dizer que escrever ou ler no celular enquanto a outra pessoa fala em nada interfere na atenção? Desculpe, mas não cola!
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É raríssima a pessoa que consegue conversar e, ao mesmo tempo, utilizar o celular sem deixar de comprometer a qualidade do diálogo. Quem faz uso do celular sem que este seja necessário ao andamento da conversa, considero ser alguém pouco dado a gestos de atenção e educação. Como rolar tanta quantidade de distrações na tela do aparelho e não ser atraído por alguma questão qualquer sem que o interlocutor fique no “vácuo”? Depois acontece aquela conversa do tipo: “não entendi o que você falou!” ou então a famigerada: “ah, mas você não me falou isso!” Dá vontade de jogar o aparelho de celular para bem longe, de preferência com a pessoa agarrada nele.
Hoje não pretendo falar das maravilhas da tecnologia, tampouco bem dos smartphones, pois estes também merecem meu respeito e reconhecimento acerca de sua indiscutível utilidade nos dias atuais. Pretendo, isto sim, falar da baixíssima qualidade das relações interpessoais mediadas de modo invasivo por estes aparelhinhos atrevidos, onipresentes e metidos a oniscientes, ressaltando que a questão aqui colocada não diz respeito aos grandes benefícios trazidos pelo aumento significativo de recursos embarcados em um único aparelho, e sim sobre a forma como as pessoas majoritariamente o utilizam.
Outro dia presenciei uma discussão sobre o fato de que muita gente alega não ter sido informada sobre uma determinada questão quando na verdade o que houve foi a total falta de atenção durante a conversa, pois algumas pessoas não largavam o celular. Sei que agora esse assunto é ocioso, uma vez que se revelará um problema somente daqui a alguns anos ou quem sabe décadas.
É nisso que acredito. Então, por ora, cabe apenas o exercício de reclamar do “irreclamável” e aceitar passivamente o contraditório, sem olvidar do fato de pensar que até nas coisas mais celebradas podem estar o prenúncio das tragédias que virão. Espero estar enganado. Como prova de meu apreço e confiança nos smartphones, escrevi este texto utilizando o meu, que, aliás, sempre carrego comigo, torcendo para que não me joguem pra longe.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)