Os Jogos Panamericanos, realizados neste ano na cidade de Santiago, no Chile, revelaram uma sensação inusitada. No beisebol, tradicional esporte americano, o Brasil se mostrou uma das principais seleções na disputa do torneio.
Conquistando uma medalha de prata inédita na história, o time contou com ajuda de um atleta de Suzano, Gabriel do Carmo Barros, catcher da equipe.
Ao portal HojeDiario.com, ele contou a experiência de ter feito parte do time que impressionou a muitos.
O beisebol é um esporte muito praticado na América do Norte e Central. O jogo é composto por dois times de nove jogadores e cada jogo tem 9 entradas, que não tem um tempo definido, onde de maneira alternada, as equipes atacam e defendem.
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As posições dos jogadores vão alternando durante a partida. Primeiro, a equipe visitante ataca, ou seja, cada jogador tentará rebater a bola com o bastão e correr para as bases. A bola de beisebol é lançada por um jogador, enquanto o rebatedor de outro time está posicionado para acertar a bola com o bastão. Logo atrás do rebatedor, está um receptor que pertence ao time do lançador.
Se a bola for acertada pelo rebatedor, ele deve correr pelas quatro bases do campo. Se ele conseguir atingir todas as quatro, a equipe ganha um ponto. Vence a equipe que tiver mais corridas completas durante a partida. Também há a chance da bola ser rebatida para fora do estádio, no movimento chamado “home run”, que já garante um ponto para o time.
Dentro de toda essa relação e complexas regras, está Gabriel, receptor (ou catcher) da seleção brasileira e do time francês Montigny Cougars. Ele tem 28 anos e é natural de Suzano. Seu contato com o esporte foi bem novo, quando ainda morava nas ruas do Parque Maria Helena.
“Comecei a jogar beisebol com 8 anos por influencia de primos, e irmão, primeiramente treinava com o time de Suzano até oficialmente jogar com a Equipe de Gecebs em Arujá”, contou. Sua vida foi assim até 2016, quando foi contratado pela equipe francesa para ser seu receptor. “Para mim, jogar fora do país foi um sonho realizado. Mas mal sabia que estava tudo começando”, continuou.
Seu bom desempenho na França chamou a atenção dos treinadores da seleção brasileira, a qual ele já tinha algumas passagens nas categorias de base. Sua primeira convocação foi em 2020, quando a equipe foi disputar as Eliminatórias para a Copa do Mundo de Beisebol, no estado do Arizona, nos Estados Unidos.
“O maior desafio em fazer parte da seleção brasileira acredito que foi a distância. Por eu estar jogando na França, fico muitas vezes distante dos olhos dos coachs [treinadores] e responsáveis pela seleção, então sempre tenho de mostrar bons resultados pra conseguir chegar lá”, explicou.
Um dia antes, porém, da competição começar, tudo foi fechado devido à pandemia do coronavírus (Covid-19).
“Foi em março de 2020, bem no pontapé da pandemia da Covid. Estávamos todos uns 12 dias já lá em Arizona, concentrados para o campeonato. Um dia antes começar tudo foi cancelado”, contou.
Passou o tempo e uma nova oportunidade para disputar uma competição com a Seleção Brasileira surgiu. Desta vez, era participar de uma grande competição: os Jogos Panamericanos, que ocorreriam em Santiago, no Chile. O time brasileiro não participava da competição desde 2007, quando realizado no Rio de Janeiro.
As expectativas em relação ao time não eram tão altas. Parte do time era composta por profissionais, porém, outra por jogadores amadores, que dividiam a carreira com outras profissões. Gabriel contou que viver só do esporte não é possível para grande parte dos atletas da seleção.
“No Brasil hoje não é possível viver só do baseball. Até alguns anos atrás todos que atuavam no Brasil concorriam ao Bolsa Atleta, que sem dúvidas era de muita importância e que ajudava muito o atleta amador no Brasil a continuar praticando e competindo e assim mantendo um bom rendimento”, explicou.
No Pan, a estreia já surpreendeu a todos. A seleção brasileira venceu a Venezuela, a quarta melhor seleção do mundo. Logo em seguida, bateu a Colômbia, numa virada épica num duelo que durou 3:30 e depois derrotou Cuba. Depois disso, superou Panamá e se classificou para a grande final, mesmo perdendo para o México.
Já havia se formado a nova sensação dos Jogos Panamericanos. A final contra a Colômbia foi perdida, mas ainda assim a prata conquistada foi histórica. Gabriel contou que não tinha noção do tamanho que a seleção tomou ao longo desta trajetória.
“Fomos considerados a sensação dos jogos Pan-Americanos. Para ser honesto, no começo de tudo, não tínhamos ideia do quão grande era o feito que estávamos logrando. Depois que a ficha cai e damos conta que a seleção estava bombando nas redes sociais, amigos, família, todo mundo falando sobre nós”, disse.
Apesar da surpresa com toda a repercussão, ele disse que o desempenho não foi tão surpreendente.
“Fizemos história no Chile, mas para dizer a verdade chegamos até bem confiantes e bem preparados pra esse Pan-Americano. A seleção vinha treinando junto desde março, então já estava em uma preparação para fazer bonito lá em Santiago”, destacou.
Agora o objetivo da seleção é se classificar para a tão sonhada Copa do Mundo de Beisebol (WBC – World Baseball Cup).
“O próximo objetivo pela seleção sem dúvidas é conseguir vaga para o WBC e continuar colando o nome do Brasil sempre em alto no mundo do beisebol”, ressaltou.
Para ele, toda essa divulgação na mídia servirá para fazer com que o esporte ganhe mais destaque no país e, principalmente, ganhe mais torcida.
“Eu considero essa repercussão muito boa pra nossa modalidade. Espero que isso traga mais adeptos ao esporte, mais visibilidade, mais investimento, patrocínio, e que mais pessoas se interessem pelo beisebol, que é um esporte incrível e que mudou a minha vida assim como de vários outros”, finalizou.