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“Para meus antepassados”, por Luci Bonini

A todos vocês que me precederam nesta vinda na Terra, eu faço hoje uma homenagem e deixo registrado meus agradecimentos.
Atualmente existe uma organização mundial que se preocupou em organizar os dados das famílias que se, assim o quisessem, organizassem sua árvore genealógica. Nesta última década este site já uniu muitas pessoas do mundo todo, e muitas árvores genealógicas estão formando imensas florestas.

No meu caso, o lado europeu é bastante grande. Avós, bisavós, tataravós que viveram em países distantes, em reinos que já não mais existem, e cujos netos se aventuraram em vir para o Brasil para tentar algo novo.

Vendo aquela árvore muitas coisas me fizeram meditar sobre a vida dos meus antepassados em dois aspectos. Em primeiro lugar e no caso da minha mãe, dos europeus, essa árvore é imensa, há desdobramentos de descendentes em vários países do mundo. Alguns até mesmo guardam o sobrenome e o nome dos antepassados. Muito interessante ver pessoas como o nome exatamente igual ao do meu avô que mora nos Estados Unidos, outro que mora na Itália. Claro que sobrenomes podem não ser exatamente da mesma família, mas achei muito lindo pessoas que possam ter o mesmo sobrenome dos meus avós.

Em segundo lugar, uma melancolia muito grande invade minha alma quando se buscam informações sobre os antepassados de meu pai. Meu pai dizia que o pai dele, por sua vez, contava que ele era filho de um escravo  de uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Ele havia se beneficiado da Lei do Ventre Livre, mas só saiu de casa quando chegou aos 14 anos mais ou menos. Mais tarde foi funcionário da Central do Brasil, companhia de trens iniciada no segundo império. Foi neste emprego que ele faleceu, atropelado por um trem na ferrovia que ligava a capital do país, na época, a São Paulo.

Assim, é só até aí que me chegam as informações sobre os antepassados de meu pai. Eu desconheço qualquer esforço em se recuperar a memória dos negros no Brasil. Sei que existem testes de DNA para saber o país de origem, mas acredito que não existe um esforço em levantar documentação do destino dos ex-escravos a fim de que pudéssemos conhecer mais a fundo aqueles que vieram sequestrados de sua terra natal para serem escravizados neste país.

Acredito que não exista documentação de registro, afinal, os únicos registros eram os recibos de compra e venda de escravos que nem nomes tinham. Os nomes e sobrenomes advieram depois da Lei da Abolição em que eles viraram “cidadãos livres” e muitos passaram a levar o sobrenome de seus ex-donos, o que complica, ainda mais, para conhecermos nossos antepassados.

Para finalizar, independente da origem dos meus antepassados, deixo aqui um imenso sentimento de gratidão, pois viveram num momento de muitas mudanças mundiais e locais, de desafios no âmbito da família, da sociedade, das tecnologias.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal HojeDiario.com).