Neste sábado (08), o mundo celebra o Dia Internacional das Mulheres, uma data que reforça a luta pela igualdade de direitos e o reconhecimento do protagonismo feminino. O portal Hoje Diário apresenta três histórias inspiradoras de moradoras da região do Alto Tietê que mostram como a força feminina pode impactar diferentes áreas, promovendo inclusão, justiça e representatividade.
Embora representem 51,5% da população brasileira, segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres ainda enfrentam desigualdades salariais, sub-representação política e violências de gênero. Pela primeira vez, elas são maioria em todas as regiões do Brasil.
Nesta data, é importante destacar aquelas que, com determinação e coragem, desafiam padrões impostos, superam adversidades e fazem a diferença em todo o mundo.
- Bel Jaccoud: Artista e militante por direitos e diversidade

A trajetória de Bel Jaccoud, artista e ativista suzanense, é marcada pela arte e pela luta pelos direitos da comunidade LGBTQIAPN+. Desde pequena, encontrou na dança uma forma de expressão e resistência.
“Sou filha de mãe e pai professores, moradora da cidade de Suzano a vida inteira. Passei parte da infância no Jardim Imperador e, desde sempre, a dança foi o que mais me trouxe felicidade plena. Comecei a dançar em 2006, aos 9 anos de idade.
Ao longo dos anos, fui me apaixonando pelo movimento de saraus, junto também com a escrita. Em 2021, lancei meu primeiro livro, LAVA, e em 2022, Curta e Prosa, em parceria com a artista e ilustradora suzanense Jana Santos.
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Bel também é mãe solo de Bento, que atualmente tem 8 anos. Durante sua gestação, perdeu seu companheiro, o artista Felipe Luz, uma referência cultural na cidade. Hoje, ela se dedica à produção cultural em Suzano e em outras localidades.
Para Bel, a arte também é um meio de conquistar direitos políticos.
“Dentro da minha trajetória artística, sempre realizei trabalhos políticos que provocam reflexões e denunciam as violências resultantes da injustiça social. Em 2022, tornei-me militante organizada no movimento Frente LGBTQIAPN+ de Suzano, no qual hoje sou vice-presidenta.
A partir de então, passei a construir, junto a outros integrantes, o carnaval com o Bloco Saia da Frente, a Parada LGBT+ de Suzano e diversas outras atividades voltadas ao fomento de espaços de acolhimento e à reivindicação de políticas públicas para a população LGBT+. Sou uma mãe solo, LGBT+, artista e brasileira. Meu corpo é político”, declarou.
Ao falar sobre representatividade feminina dentro da comunidade LGBTQIAPN+ no Alto Tietê, Bel destaca a necessidade de romper com os binarismos e ampliar a visão sobre o feminismo. Segundo ela, o transfeminismo é essencial para incluir todas as pessoas que sofrem com a violência de gênero.
“O feminismo está na vanguarda da luta, e em Suzano não é diferente. Acima de tudo, é necessário que lutemos por um feminismo das mulheres pobres, da classe trabalhadora, pois não nos basta subir ao topo, enriquecer e fazer parte da manutenção do sistema machista e patriarcal que disfarça pequenas violências diárias sob o conceito de ‘bem viver’ ou status social”, afirmou.
Para as mulheres que enfrentam dificuldades em ambientes conservadores ou hostis, Bel aconselha a busca por redes de apoio e coletivos.
“Construir redes de apoio e fortalecer coletividades com outras mulheres é fundamental, tanto para o processo de identificação quanto para a independência. É muito importante conhecer os direitos previstos por lei e exigi-los.
Vale sempre se munir de registros e testemunhas. Ainda seguimos na luta em Suzano por uma delegacia da mulher que funcione 24h, pois não temos uma.
Também precisamos da descentralização dessas delegacias e da criação de uma Secretaria da Mulher. Conversar com pessoas de confiança ou com profissionais disponíveis é sempre um bom começo para entender cada situação.
O mais importante é não se culpabilizar por absolutamente nada e lembrar que não está sozinha”, finalizou.
- Doutora Patrícia Braga: Advogada que luta pelo direito das mulheres

A advogada Patrícia Braga, de Suzano, tem uma trajetória marcada por desafios e conquistas no meio jurídico. Primeira mulher do município a ocupar uma cadeira no conselho estadual da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), ela considera essa conquista um passo importante para a advocacia e para a igualdade de gênero.
“Esse feito simboliza a quebra de barreiras históricas e o reconhecimento da competência e liderança feminina em um espaço que, outrora, era tradicionalmente dominado por homens. Também inspira outras advogadas a se engajarem na representatividade institucional, fortalecendo a participação feminina nos espaços de gestão e liderança”, afirma.
Com 26 anos de carreira, Patrícia enfrentou desafios comuns a muitas mulheres em profissões predominantemente masculinas.
“Nós, mulheres, percebemos a desconfiança e a cobrança acirrada, tendo que comprovar nossa competência repetidas vezes para sermos levadas a sério. No início, em reuniões, litígios e negociações, era comum ver meu posicionamento ser testado de maneira mais rigorosa do que o de colegas homens”, relembra.
Para superar essas barreiras, investiu na excelência técnica e na construção de uma rede de apoio, além de atuar ativamente para incentivar outras advogadas a ocuparem espaços de liderança.
Ela acredita que a presença feminina na liderança jurídica é essencial para a criação de políticas mais inclusivas.
“Quando as mulheres assumem esses postos, elas não apenas demonstram sua competência, mas também abrem caminhos para que outras possam alcançar posições de destaque”, destaca.
No entanto, segundo Patrícia, ainda há muito a ser feito para garantir equidade no meio jurídico, incluindo a mudança cultural, a promoção da diversidade e o combate a estereótipos.
Além de sua atuação na advocacia, Patrícia mantém um forte compromisso com a defesa dos direitos das mulheres e de grupos vulneráveis.
“Meu trabalho sempre esteve voltado para a defesa dos direitos das mulheres e de grupos vulneráveis, e esse continua sendo um dos meus focos profissionais. Ao longo da minha trajetória na advocacia, tenho atuado ativamente no enfrentamento à violência doméstica, auxiliando mulheres no acesso à justiça, garantindo medidas protetivas e orientando-as sobre seus direitos”, diz.
Para ela, a luta pela equidade de gênero é um compromisso de toda a sociedade.
“O que combatemos não é um gênero, mas sim os agressores e a cultura de machismo e violência. Somente com conscientização e engajamento de todos podemos construir um ambiente mais justo e seguro para as mulheres”, finalizou.
- Silvana Neves: Motorista de ônibus que desafia padrões

Criada por uma família simples em Nova Esperança, no Paraná, Silvana encontrou na profissão de motorista de ônibus uma oportunidade para transformar sua vida. Casou-se aos 18 anos e não teve a chance de concluir os estudos básicos.
Após o divórcio, sua alternativa foi trabalhar com faxinas.
Mesmo diante das dificuldades, Silvana não desistiu. Fez um curso de transporte escolar e, após algum tempo na área, um colega a indicou para a empresa Radial, responsável pelo transporte público em Suzano.
Ao relembrar suas primeiras experiências como motorista de ônibus, Silvana destaca sua gratidão pela equipe que a auxiliou durante o processo.
“Agradeço a Deus em primeiro lugar e depois aos colegas, que na garagem me deram todo o suporte e treinamento, além de autoestima e oportunidades, que me fizeram sentir capaz”, afirma.
Atualmente, no Brasil, a quantidade de mulheres habilitadas para dirigir ônibus e caminhões ainda é muito pequena. De acordo com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), em 2022, apenas 3,4% dos condutores habilitados para essas categorias eram mulheres.
Mesmo em um espaço predominantemente masculino, Silvana afirma ser grata por poder exercer sua profissão.
“Hoje, já estou há dois anos e dois meses na empresa e só tenho a agradecer. Gosto da minha profissão e de poder, mesmo que por pouco tempo, fazer parte da vida de todos os meus passageiros”, finaliza.