Antes de adentrar ao tema do presente artigo, penso que um esclarecimento se faz necessário. Não sou católico. Não sou cristão. Na verdade sou ateu. Logo, sequer acredito naquele que convencionam chamar de Deus. Assim, o que escrevo aqui é uma opinião isenta de paixões ou vinculações dogmáticas.
José Mario Bergoglio é um ser humano bastante diferenciado. Na quadra histórica em que vivemos, penso que essa diferenciação se dá justamente pela assunção de que ele é, antes de qualquer coisa, um ser humano. Estou falando de Francisco, o 266º Papa da Igreja Católica.
Últimas Notícias
Ainda nos primeiros dias de papado, Francisco foi perguntado sobre as mulheres que engravidam e dão à luz seus filhos não sendo casadas, as chamadas “Mães Solteiras”. Sem hesitação alguma, o Papa afirmou que essas mulheres já são amadas por Deus pelo simples fato de serem mães. “A maternidade é uma dádiva de Deus, não um estado civil”, teria dito. Era apenas um aperitivo do que o Mundo veria a partir de então.
A foto que ilustra este artigo dá o tom de quem é o Papa Francisco. A caminhada do clérigo solitário, em plena pandemia, rumando para seu labor de fé, num Vaticano triste, frio e chuvoso, é uma das mais belas e significativas imagens do ano. Está tudo ali, só não vê quem não quer.
Mas Francisco não cansa de surpreender. No documentário “Francesco”, que entrou em cartaz na Itália no último dia 21 de outubro, o Papa afirma que os homossexuais precisam ser protegidos por leis de união civil. Suas palavras: “Os homossexuais têm direito a ter uma família, são filhos de Deus […]. Ninguém pode ser expulso de uma família, e a vida dessas pessoas não pode se tornar impossível por esse motivo.” Foi uma clara demonstração de apoio de um Papa aos direitos dos homossexuais. Isso é muito importante. Mas nem tudo são flores em relação a esse assunto.
O homossexualismo sempre foi um tema difícil de ser tratado junto aos católicos. A relação da Igreja Católica com os homossexuais sempre foi marcada por contradições e dupla noção moral. Francisco, que agora se pronuncia em favor da união civil entre homossexuais, ainda não aceita que se casem. Critica acertadamente a discriminação por motivos de orientação sexual, mas nega aos padres gays uma vaga no seminário. Mas Francisco é fiel a si mesmo. Como arcebispo de Buenos Aires, antes de se tornar Papa, ele já se empenhava pela união civil, sempre tomando muito cuidado para que o instituto não fosse confundido com o casamento.
O caminho é difícil, a estrada é tortuosa, mas o caminhante nos inspira confiança. A Igreja, pelas mãos de Francisco, começa efetivamente a reconhecer que ao longo da história produziu verdadeiras atrocidades com seu dogmatismo, causando feridas profundas em vários setores da sociedade. Desde o passado mais remoto até os dias atuais, as doutrinas da Igreja Católica provocaram muito sofrimento e dor entre os homossexuais. E também entre os divorciados, entre as mães solteiras…
Que a humanidade de Bergoglio ilumine a jornada.