“Sociedade Distópica” por Luci Bonini

Muitas obras literárias, como já demonstrei aqui, possibilitam inúmeras interpretações que se encaixam nos dias atuais.

Imagine um romance escrito entre 1947 e 1948, que imaginava como seria o mundo em 1984. George Orwell, quando escreveu o livro 1984, colocou um personagem numa sociedade distópica, ou seja, bem contrária a uma sociedade utópica, onde tudo dá certo.

Winston Smith é um membro do Partido no poder, na nação da Oceania. Aonde quer que vá, até mesmo em sua própria casa, ele é observado pelo Partido através de “teletelas”, por meio das quais, o rosto do líder do Partido, conhecido como Big Brother, tudo vê.

Este partido, inteligentemente, controla tudo: a história – deixando os fatos que interessam – neste caso quem faz esse controle é o Ministério da Verdade, que muda os fatos de acordo com a ideologia do partido. Inventou-se um novo idioma, que aos poucos suprimiu as palavras que podiam estar relacionadas a qualquer tipo de rebelião. Além dessas proibições e manipulações, o partido proíbe qualquer expressão de individualidade.

Há momentos no livro em que o personagem passa as noites vagando pelos bairros mais pobres de sua cidade, onde o proletariado, vivendo miseravelmente, está livre do monitoramento do partido.

A Polícia do Pensamento, está em todos os lugares, no mais discreto vizinho, que está atento a qualquer atitude suspeita e entrega os que se desviam das regras. Como se pode ver, quando o autor de 1984 pensou em escrever alguma coisa no futuro, colocou o ano em que concluía o romance ao contrário.

Ele achou que usando a sátira de uma sociedade distópica, num futuro um tanto próximo, estaria alertando para possíveis desarranjos sociais que aconteceriam. Vale a pena analisar que há pontos interessantes, como por exemplo: o partido controla a cultura, a economia, o sistema político, as mentes, impede a lealdade entre os cidadãos.

Sob a efígie do medo, o partido mantém o controle do pensamento e das emoções da população.

O que mais me intriga é a criação de uma Novilíngua, cujo objetivo é eliminar o crime de pensamento, removendo nuances do pensamento rebelde e estreitando o leque nas formas de expressá-lo.

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)