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“The Voice”, por Marcelo Candido

Imagine a situação: um amigo pede que você entregue um bolo de coco a uma amiga em comum que está do outro lado do oceano Atlântico. Depois de sofrer todos os perrengues de quem transporta a encomenda, passando por aviões e táxis, tendo que evitar toda sorte de infortúnios para que a entrega chegasse intacta, eis que a destinatária, ao pegá-la, simplesmente atira o bolo sobre um móvel, pondo fim a um presente que além do sabor, carregava uma onírica declaração de amor. Se essa história se passasse nos tempos atuais, é claro que o bolo não seria transportado assim.

Porém, em 1954 era assim de forma um tanto rudimentar que objetos transitavam pelo mundo. Mas o mais surpreendente desta história é que, além de real, suas personagens são conhecidas e amadas pelo público do mundo inteiro. A portadora do bolo, Lauren Bacall; a destinatária, Ava Gardner (Jean Cocteau a via como “o animal mais lindo do mundo”) e o amigo que pede que o bolo seja entregue, Frank Sinatra! Rui Castro nos conta esta e outras histórias em seu livro “Saudades do Século 20”, publicado em 1994 pela Companhia das Letras.

Sinatra tivera um estrondoso sucesso nos anos de 1940, mas no início de 1953 era quase um has-been (significa “já era”) e por isso estava fora da indústria do entretenimento desde 1949, além de amargar o pior do ostracismo para quem um dia alcançara os píncaros da glória. Mas ainda em 1953 ele volta à cena para nunca mais sair, e figurar até hoje como um dos mais brilhantes artistas que o mundo já nos deu a conhecer. Naqueles tempos bicudos Sinatra sabia que a vida faustosa que ele levara e todos os excessos que cometera teriam lhe colocado naquela situação.

O bolo rejeitado não foi apenas o ápice da crise, mas também o ponto da virada. E quando o jogo virou e as oportunidades novamente apareceram, ele soube se reinventar, exceto no seu relacionamento com Ava Gardner. Recomeçou seu caminho na história do show business, galgou a eternidade por ainda ser referência na música, no cinema e, também, na vida hedonista como uma marca de sua personalidade. Tivesse sucumbido em meio à crise que quase o levou ao suicídio, o mundo não conheceria a força que fez de Sinatra o sinônimo da voz.

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)