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“Adeus Dema”, por Marcelo Candido

Ao ouvir o som do interfone, por instinto, desconfiei que pudesse ser uma má notícia. Era noite de um sábado gelado e do outro lado da chamada veio a informação sobre a morte de um amigo. Na tarde daquele mesmo sábado, encontrei de modo fortuito na área comum do edifício onde moro uma colega também residente com quem, minha esposa e eu, conversamos sobre a pandemia do novo coronavírus, assunto obrigatório nos últimos quinze meses. Foi quando ficamos sabendo que entre os moradores dali havia um em estado grave, internado há vários dias.

Preocupado, tentei minimizar a notícia, desejando que ele se recuperasse logo e que pudesse voltar plenamente ao nosso convívio e ao da família. Nossa interlocutora, porém, deixou escapar uma expressão não tão otimista, embora torcesse verdadeiramente pela saúde daquele amigo. Foi ela quem deu a má notícia pouquíssimas horas após aquele encontro. A pessoa sobre quem conversamos havia falecido vítima de complicações decorrentes da covid-19. Comuniquei minha esposa e minha filha e ficamos perplexos ao refletir sobre o destino de um homem tão querido. Alguém sempre bem humorado, cheio de vida, muito focado no trabalho e na família. Um político que entre outras missões havia sido prefeito de sua cidade em um dos períodos mais difíceis na vida do país. Responsável por vários empreendimentos que empregam muitos trabalhadores.

Recolhido, pensei sobre o quão trágico significava aquele acontecimento na vida de sua família que tanto o ama. Pensei também nas muitas pessoas que vêm sofrendo com a morte de seus familiares e amigos ao longo desta pandemia. Creio que sairemos muito traumatizados deste triste marco temporal em nossa geração, lembrando-nos das vidas perdidas que poderiam ter sido salvas caso o país tivesse sido mobilizado a fim de que esta pandemia fosse enfrentada de modo articulado e bem gerenciado.

Carrego comigo a certeza de que tempos tão sombrios e deletérios como este têm origem detectável para além da disseminação de um vírus, porém, não estou a publicar um manifesto, mas um memorial em homenagem a Waldemar Marques de Oliveira Filho, o Dema, que nos deixou no último dia 03 de julho. Rogo para que a vida que ele teve fique como testemunho da beleza da amizade, do afeto, do respeito e do amor que ele semeou como quem anseia em ver a vida florir mansamente ao longo do tempo.

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)