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“Encontros e desencontros”, por Marcelo Candido

Fazia muito tempo que não a encontrava. Por força do acaso a vi atravessando a rua de forma apressada. Parecia ansiosa por chegar a algum lugar. Quando acenei, ela não me reconheceu, mas demonstrou curiosidade a ponto de parar por um instante, observar e abrir um largo sorriso de contentamento ao concluir ter encontrado uma grande amiga. Nossas relações foram construídas ao longo de décadas, porém, o distanciamento fora inevitável em razão dos caminhos percorridos por cada uma de nós.

Ela havia se transferido do escritório onde trabalhávamos, para representar outra corporação fora de seu estado natal. Estava feliz com o que a vida havia lhe proporcionado e tentava, mais uma vez, progredir na carreira por força de um novo título acadêmico. De minha parte, confidenciei que a advocacia ainda era minha atividade, mas que pensava em desistir da carreira por desencanto profissional. Disse ainda que desejava me mudar para uma cidade pequena e que tudo o que me interessava era viver de forma frugal em meio à natureza, de preferência plantando, cultivando e colhendo meu próprio alimento.

Ela quis saber as causas do desencanto profissional, no entanto, preferi afirmar de forma genérica que o dia a dia da advocacia apenas confirmava o quanto a ideia fulcral de justiça faltava, principalmente às pessoas menos favorecidas economicamente. Temendo parecer panfletária, deixei de lamentar e disse que lidar com a terra e sua consequente profusão de benefícios valia mais a pena nesta fase da minha vida. Ela demonstrou interesse àquilo que eu acabara de dizer e afirmou, sem pestanejar, que a felicidade cada pessoa encontra ao seu modo e que o importante era estar bem consigo mesma. Ao dizer isso voltou a demonstrar sinal de pressa e disse querer me localizar com mais tempo para matar a saudade, porque naquele momento ela tinha um compromisso que esperava cumprir com diligência. Falei da minha satisfação em tê-la encontrado e assenti com a cabeça que gostaria sim de vê-la novamente.

Ao nos despedirmos perguntei como poderia fazer contato e, para minha surpresa, ela pediu que eu a localizasse por intermédio das redes sociais onde estava muito presente. Agradeci, mandei-lhe um beijo e parti. Retomando meu caminho me alegrei diante da oportunidade de rever uma grande amiga, porém, lamentando não ter tido coragem de dizer que nas redes sociais a gente não encontra as amigas e sim um simulacro daquilo que são. Torci para que o destino novamente nos colocasse frente a frente e com tempo suficiente para, quem sabe, reconstruir relações que agora pareciam dissonantes.

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)