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“Cemitério Père Lachaise”, por Marcelo Candido

Existe um cemitério na França que atrai milhões de turistas todos os anos. Eles o visitam para estarem próximos às tumbas de personalidades históricas cujos restos mortais foram ali depositados.
Père Lachaise está localizado nos arredores de Paris e eu tive a alegria de visitá-lo há muitos anos, atraído pelas figuras de Abelardo e Heloísa que conheci ainda quando bem jovem ao ler o livro “Almanaque do Amor”, de autoria de Bernardo Pellegrini e Maria Angélica Abramo. No mesmo ano da publicação do livro, 1988, foi lançado o filme “Stealing Heaven” (Em nome de Deus), que conta a história de Pedro Abelardo e Heloísa de Argenteuil.

Ele, um filósofo, teólogo e professor na escola da Catedral de Notre Dame. Ela, uma estudante que viria a se tornar uma proeminente intelectual, freira e missivista francesa. Viveram na Idade Média e por isso enfrentaram inúmeros obstáculos diante do amor que sentiam mutuamente, por conta das severas restrições impostas pelos costumes da época. Mas o cemitério guarda ainda muitas outras figuras nele sepultadas que influenciaram profundamente a humanidade, como Jim Morrison, Molière, Honoré de Balzac, Édith Piaf, Maria Callas, Chopin, Oscar Wilde e Allan Kardec, entre tantas outras.

Embora eu tenha visitado por duas ocasiões esse cemitério antes que algumas medidas fossem tomadas para preservar as sepulturas, o fato é que hoje em dia algumas estão protegidas a fim de evitar o excesso de contato direto por parte dos turistas. Os mais emblemáticos são os túmulos de Morrison e Wilde, sendo o segundo para evitar os beijos marcados por batom em homenagem ao escritor irlandês conforme alguns filmes já exibiram, como, por exemplo, “Paris, eu te amo”, lançado em 2007 no Brasil.

Ao entrar no cemitério o visitante tem a disposição um mapa que ajuda localizar todas as celebridades ali sepultadas. No monumento funerário de Abelardo e Heloísa, construído em 1817, pessoas enamoradas de todo o mundo depositam até hoje flores em homenagem ao amor. É lindo constatar o quanto a história desses dois amantes inspira e emociona gente de todo o planeta, tantos séculos depois de morrerem. A forma como o cemitério Père Lachaise se organiza confirma que é possível transformar lugares improváveis em centros de visitação para que a população conheça a história, a arte, a ciência e a religiosidade a partir da experiência do contato com celebridades já falecidas.

Nossos modestos cemitérios locais, embora não sendo destino de tantas e aclamadas figuras, ainda assim guardam as lembranças de pessoas que marcaram suas presenças na sociedade e valem como ponto de atenção por parte, por exemplo, dos estudantes que poderiam conhecer o local onde está enterrada a pessoa que dá nome à escola onde eles estudam. É importante registrar que na França, além do Père Lachaise, existe o Panteão de Paris que exibe no interior de sua cripta restos mortais ou memoriais em homenagem a várias figuras que ilustraram o pensamento francês e o de todo o ocidente, como Jean Jacques Rousseau, Victor Hugo e Voltaire.

Este último escreveu o livro “Cândido”, que “desvenda” muito das características pessoais do ser humano que escreve o presente artigo em homenagem ao lugar onde vivem os mortos. Ao lado do túmulo do escritor iluminista Voltaire me senti vivo, lúcido e feliz!

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)