Uma pesquisa realizada pelo Sebrae, em 2017, identificou que 90% das empresas brasileiras seguem o modelo “familiar”. Isto é, a maior parte da força que movimenta os empregos no nosso país vem de empreendimentos formados por famílias, que unem seus corações para construir um negócio em conjunto.
Eu mesma conheço muitas empresas familiares e tenho certeza de que você também conhece uma loja, restaurante ou escola que começou assim.
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Mas, se empreender já é um desafio, como resolver conflitos sem levar os problemas para o almoço de domingo?
Por isso, separei cinco dicas práticas, baseadas em problemas que já vi com meus clientes, para que o seu “negócio de família” deslanche de vez.
- Planejamento em 1º lugar
E isso vale para qualquer tipo de empresa. Rabisquem suas ideias, analisem a viabilidade e trabalhem com metas realistas – de gastos e lucros.
Contem com os serviços de profissionais qualificados para cada etapa, como contadores, advogados, agências de marketing e não tentem resolver percalços com “jeitinho”.
Se não dá para começar com R$ 10 mil de cada, vejam o que é possível fazer ou se compensa esperar um pouco mais.
Resumindo: não façam nada por impulso.
- A “burocracia” pode salvar a sua empresa (e a pressa, afundar)
Eu sei que todo mundo sonha com o dia da inauguração do seu negócio – físico ou virtual. Mas é raro quem goste de sentar e resolver as pendências burocráticas.
Porém, como estamos falando de abrir uma empresa e não de brincar em família, essa etapa não é negociável.
Então, vocês precisam:
- Definir a função de cada pessoa;
- Decidir como será o regime de participação no negócio (será um trabalho CLT, PJ?);
- Combinar se todos entrarão como sócios. Caso a resposta seja sim, qual a contribuição e participação ($$$) de cada um;
- Acordar como serão feitos os pagamentos e qual a forma de cálculo;
- Delimitar quais os horários de funcionamento da empresa
- Definir quem tomará decisões importantes, principalmente em situações de crise ou urgência, entre outros.
Pode parecer chato e desgastante, mas acredite: você vai me agradecer depois.
- Confiança e preguiça são coisas completamente diferentes
“Eu me mato o dia todo nessa lanchonete. Eu me desdobro limpando o balcão, atendendo os clientes, organizando os pedidos, ajudando o pessoal da cozinha, fazendo reserva com o fornecedor e passando pano no chão…
E ele só fica ali: batendo papo com o povo e mexendo no celular.”
Você já ouviu alguma história parecida com essa? Pois eu já, e afirmo com todas as letras que o “início do fim” para uma empresa familiar é essa divisão horrível entre um parente que faz tudo e outro que não faz nada.
Lembra que eu comentei sobre definir as funções, no tópico anterior? É justamente por causa disso. Muitas vezes, aquela pessoa que não é muito “adepta” ao trabalho deixa toda a responsabilidade para a outra, sob o pretexto de confiar cegamente.
Porém, isso só gera sobrecarga e estresse para toda a empresa, o que pode desencadear de brigas em família, até a falência.
Por isso, não seja a “parte preguiçosa” do contrato. Trabalhe com afinco e faça com que a sua família saiba que pode contar com você.
- Não, você não é a “filha da dona”
Já tive o desprazer de ver uma jovem “repreendendo” um caixa de uma loja que eu atendia, com aquela clássica frase:
“Você sabe com quem está falando? Eu sou a filha da dona! Então, é pra fazer o que estou mandando”.
Entenda: ter algum parentesco com os sócios administradores da empresa (os chamados “donos”) não torna você melhor que ninguém, tampouco ter mais “poder” ou conhecimento que pessoas que não fazem parte da família, mas trabalham de forma ética e responsável.
Isso também vale para pais, irmãos, avós ou tios que apoiam essa atitude nos mais novos. Respeito é completamente diferente de abuso ou medo.
Sobre o exemplo do início: o funcionário juntou provas do tratamento humilhante e processou a empresa depois, recebendo uma indenização por danos morais.
E não, eu não tive o que fazer. O que restou foi a lição, para que esse tipo de comportamento não se repetisse.
- Todo mundo olhando para o mesmo horizonte
Muitas vezes, a família já possui uma grande tradição em um ramo, como agricultura ou dança. Porém, não são todos os integrantes que desejarão continuar nessa estrada.
Por isso, certifique-se de que vocês estão idealizando metas futuras da empresa para um filho ou sobrinho que realmente queira continuar com o legado. Caso contrário, conversem novamente e revejam alguns conceitos.
O mais importante é todos estarem felizes por fazerem parte da mesma empresa e dispostos a se esforçar para que aquele sonho saia do papel e permaneça funcionando por muitos e muitos anos.
- Bônus: FOR-MA-LI-ZE!
Todas as dicas anteriores não valem de nada se vocês se organizarem apenas “de boca”.
Formalizar as normas da empresa, o funcionamento e todos os procedimentos internos por meio de documentos não é desconfiar do próximo, e sim abrir e manter uma empresa de acordo com a lei.
Então, caso algum parente converse sobre assinar contratos, não leve para o lado pessoal. Essa é apenas uma forma de garantir que tudo estará em ordem, para a empresa e para você.
Pode parecer loucura, mas já advoguei em casos nos quais o irmão processou a irmã ou a mãe processou o filho. E apesar de todo negócio correr riscos judiciais, no caso das empresas familiares, ainda há um “plus a mais”: caso ocorra algum problema no negócio, dificilmente a relação pessoal entre os envolvidos continuará a mesma.
Então, formalizem tudo o que for possível e sejam éticos uns com os outros. Empreender é um desafio, mas vale a pena enfrentar a incerteza e construir um negócio ao lado de quem amamos.
Boa sorte para você e sua empresa familiar!
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