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“Inevitável separação”, por Marcelo Candido

Quando meu nome não aparecia como titular daquele documento e sim como pai, fui tomado por uma forte emoção. Era a primeira vez que me dava conta de que uma pessoa tem seus registros formais estampados em documentos que irão identificá-la ao longo da vida afirmando sua ascendência. Eu não mais aparecia como filho e sim como pai. E sabia que aquilo guardava um sentido de eternidade diante da iminência de um futuro em que minha filha poderia dar sequência à aventura que antes em partes eu também assumira.

Para quem crê, a eternidade pode ser divina. Em oposição, ela pode ser impossível caso entendida como algo separável daquilo que a ciência convencionou identificar como sendo o universo e seus instigantes mistérios. Ao observar as estrelas em noite aberta e longe das luzes artificiais, é possível assistir de forma mais esplendorosa a um dos espetáculos mais comoventes da humanidade: o descortinar-se da eternidade revelando tempos inalcançáveis pela vida de qualquer pessoa, mas que estão ali, ao alcance dos olhos!

Estrelas que já não mais existem e cuja luminosidade somente agora nos alcançou na imensidão do universo à velocidade da luz. Galáxias outras e não apenas esta que nos abriga, confinados ao nosso diminuto planeta. Beleza indescritível até pelos poetas. Faz sentido perceber que a vida tal como a conhecemos está inextricavelmente associada a todos os fenômenos do universo, fazendo dela o resultado de bilhões e bilhões de acontecimentos que permitiram a nossa chegada como seres humanos.

Chegamos após o crepúsculo do dia, quase em seus minutos finais. E fomos capazes de influenciar as condições de nosso próprio planeta a ponto de ameaça-lo de extinção. Se formos resultados não do barro, mas de poeira cósmica, estamos integrados a todo o universo e seguiremos em marcha, nos adaptando ao longo do tempo até que as condições para a vida humana deixem de existir na Terra. Penso que ser pai nesta imensidão cósmica seja a maior demonstração de fé, pois lançamos ao mundo alguém que será a nossa consequência pessoal na sequência da vida.

Isso é eterno, lindo e maravilhoso. Portanto, educar sobre a existência do universo em escala incalculável, sobre a necessidade de amarmos as pessoas que conosco experimentam o milagre da vida, sobre o sentido da preservação do planeta e sobre a busca pelo propósito de nossa existência são condições para que as sucessivas gerações sejam mais amorosas consigo mesmas e para com a explosão criadora de todas as coisas.

Se ao final do percurso nos colocarmos diante do Criador será a confirmação de que todo o caminho da existência humana foi pavimentado para que pudéssemos enfim entender que o Pai se fez presente o tempo todo e que fomos nós que não entendemos sua capacidade única de ocupar o tempo e o espaço vestido de diferentes formas.

Então nos daríamos conta de que discriminamos as vestes ausentes na descrição da explicação de nossa compreensão do sagrado. O nascimento de minha filha me deu a entender o infinito em meio à epifania da experiência do parto! Daí ter a certeza do Amor que nos protege em cada segundo, para que outras vidas se sucedam no avanço espetacular da aventura humana na busca pelo significado de nossa existência. Ser pai não é só um registro em um documento digital ou impresso.

É ser tudo o que for preciso para que nossos filhos e filhas vivam na plenitude da dedicação em preservar a essência de nossas vidas necessariamente indissociáveis da existência de quaisquer outras formas. Esperarei pelo momento em que, após a partida, possamos encontrar novamente quem chegou antes, conosco e depois de nós para que os laços sejam reatados após a inevitável separação que há de se tornar apenas um hiato na longa jornada da vida.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)