A medicina oncológica deu mais um passo importante esta semana com o anúncio do governo federal sobre a nacionalização da terapia CAR-T, uma das formas mais avançadas de imunoterapia disponíveis atualmente. A proposta é ousada: viabilizar a produção pública dessa tecnologia de ponta e integrá-la, futuramente, ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A terapia com células CAR-T (sigla para “Chimeric Antigen Receptor T-cell”) consiste em reprogramar as células de defesa do próprio paciente — os linfócitos T — para que reconheçam e destruam células tumorais. O processo envolve retirar essas células do sangue, modificá-las geneticamente em laboratório e depois reinfundi-las no paciente. É um tratamento personalizado, feito sob medida para cada caso.
Hoje, ela já é usada em países como Estados Unidos, Alemanha e Japão para tratar leucemias e linfomas refratários, com taxas de remissão surpreendentes em pacientes que não respondiam a nenhuma outra terapia.
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O que muda com o anúncio do governo?
O Ministério da Saúde, em conjunto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, revelou que o Brasil está negociando com países do BRICS a transferência de tecnologia para iniciar a produção nacional de CAR-T. A ideia é reduzir drasticamente o custo do tratamento — que atualmente pode chegar a R$ 3 milhões por paciente — e romper a dependência internacional nesse setor estratégico da oncologia.
Instituições como o Instituto Butantan e a Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto já estão envolvidas em pesquisas clínicas com essa tecnologia, com autorização da Anvisa. O objetivo é, em médio prazo, oferecer essa terapia em centros de referência no país.
Potenciais benefícios para os pacientes
Se a produção nacional se consolidar, a terapia CAR-T poderá representar:
- Uma nova chance de cura para pacientes com câncer hematológico avançado, sem resposta a quimioterapia ou transplante.
- Redução de desigualdades no acesso a tratamentos de ponta, historicamente disponíveis apenas em países ricos.
- Fortalecimento da soberania científica e tecnológica brasileira na área biomédica.
Ainda assim, o caminho não será simples. Além do alto custo, a terapia exige infraestrutura laboratorial altamente especializada, centros de infusão preparados para lidar com efeitos adversos graves e uma cadeia logística eficiente. Além disso, sua eficácia em tumores sólidos (como pulmão, mama e intestino) ainda é limitada, e segue como um dos principais focos de estudo global.
A aposta do Brasil na terapia CAR-T sinaliza uma mudança de paradigma: a busca por autonomia tecnológica em saúde e a democratização do acesso à inovação no tratamento do câncer. O desafio será enorme, mas a oportunidade também é. Para muitos pacientes, essa pode ser a diferença entre esgotar as opções ou reescrever o próprio prognóstico.