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“Da startup até a barbearia: por que toda empresa precisa de estrutura contábil e acompanhamento estratégico”, por Robinson Guedes

No vasto universo empresarial brasileiro, é comum imaginar que negócios altamente tecnológicos e escaláveis, como startups, operem em uma lógica completamente distinta de pequenos empreendimentos locais, como barbearias, mercearias ou salões de beleza. A forma de entrega, os canais de venda, a velocidade de crescimento e o público-alvo realmente variam. Contudo, há uma estrutura essencial que todas essas empresas compartilham — ou deveriam compartilhar: organização contábil, planejamento e acompanhamento estratégico.

Trata-se de um equívoco recorrente acreditar que apenas grandes empresas precisam de gestão estruturada. Esse erro, infelizmente, tem custado caro ao empreendedorismo nacional. Micro, pequenas e médias empresas frequentemente enfrentam dificuldades não por ausência de mercado ou de produto, mas por falta de controle, previsibilidade e direcionamento técnico na tomada de decisões.

Este artigo busca lançar luz sobre essa questão fundamental: por que toda empresa, independentemente de seu porte ou complexidade, precisa ter estrutura contábil, planejamento tributário e acompanhamento estratégico para prosperar?

A contabilidade como base da gestão — e não como apêndice fiscal

Durante muitos anos, o papel da contabilidade foi reduzido, na prática, à conformidade fiscal: emissão de guias, entrega de obrigações acessórias e cumprimento de prazos legais. Embora esse papel ainda exista e seja essencial, ele é apenas a superfície da função contábil.

A contabilidade é, na essência, um sistema de mensuração, registro e análise da realidade econômica da empresa. Seus registros permitem responder perguntas fundamentais como:

  • Qual é a rentabilidade real do meu negócio?
  • Estou crescendo com lucro ou apenas com faturamento?
  • Quais centros de custo estão pressionando minha margem?
  • Qual é o impacto tributário da minha operação atual?
  • Tenho capacidade de reinvestimento? Posso expandir?

Essas perguntas são estratégicas. Elas não dizem respeito apenas a impostos, mas a decisões estruturais do negócio. Uma empresa que não possui contabilidade estruturada está, em termos objetivos, gesticulando no escuro.

A falsa simplicidade dos negócios pequenos

Muitos empresários acreditam que, por estarem em setores “simples” ou com faturamento modesto, não precisam de controle contábil aprofundado. Esse pensamento é compreensível — mas equivocado.

Empresas menores, em especial as que atuam com margens reduzidas, têm ainda menos margem para erro. A ausência de estrutura pode representar:

  • Pagamento indevido de tributos por enquadramento incorreto
  • Acúmulo de débitos sem o conhecimento do empresário
  • Inviabilidade de acesso a crédito por falta de demonstrações contábeis
  • Perda de controle sobre fluxo de caixa e capital de giro
  • Dificuldade em precificar corretamente seus produtos ou serviços

Não é raro encontrar pequenos negócios que “faturam bem”, mas vivem em estado crônico de instabilidade financeira. Isso, na maioria dos casos, não decorre da operação, mas da falta de uma leitura financeira e contábil correta da realidade.

Planejamento: o que diferencia empresas reativas das empresas consistentes

O planejamento é outro pilar que se tornou, erroneamente, associado apenas a grandes corporações. No entanto, o planejamento — sobretudo o tributário e financeiro — deveria ser uma prática essencial para qualquer CNPJ ativo no país.

O Brasil possui um dos sistemas tributários mais complexos do mundo. O mesmo produto ou serviço pode ser tributado de formas diferentes, dependendo de fatores como:

  • Regime tributário escolhido (Simples Nacional, Lucro Presumido, Lucro Real)
  • Localização do cliente
  • Formato de contratação
  • Composição de insumos ou estrutura da nota fiscal

Tomar decisões sem esse tipo de mapeamento pode significar pagamentos desnecessários ou risco de autuações. Por outro lado, com o planejamento adequado, empresas de qualquer porte podem:

  • Reduzir carga tributária legalmente
  • Aproveitar incentivos e créditos disponíveis
  • Organizar provisões para obrigações futuras
  • Escolher entre contratar ou terceirizar com base em impacto tributário
  • Definir metas e indicadores compatíveis com a realidade

Acompanhamento estratégico: um processo contínuo, não pontual

Além de estruturar e planejar, o que sustenta um negócio no médio e longo prazo é o acompanhamento contínuo.

Empresas são organismos vivos. O que fazia sentido tributário ou operacional há 12 meses pode estar completamente defasado hoje. O mercado muda, os custos mudam, a equipe muda. Sem acompanhamento, o empresário age de forma reativa — sempre correndo atrás do prejuízo.

O acompanhamento estratégico se traduz em:

  • Reavaliações periódicas do regime tributário
  • Análise de desempenho contábil e financeiro
  • Atualização sobre obrigações novas ou mudanças legais
  • Planejamento para expansão, novos produtos ou alterações societárias
  • Apoio técnico nas tomadas de decisão (compra de ativos, abertura de filiais, contratação, etc.)

Essa presença ativa de um acompanhamento técnico não é luxo. É base de segurança. E quanto menor a empresa, mais dependente ela é desse tipo de estrutura para sobreviver aos ciclos do mercado.

O que mostram os números

De acordo com o Sebrae, a principal causa de mortalidade precoce entre as micro e pequenas empresas brasileiras é a falta de gestão financeira estruturada. Muitos empresários sequer sabem quanto realmente lucram, qual o ponto de equilíbrio do negócio, ou o impacto de mudanças fiscais em seu modelo de precificação.

Além disso, mais de 70% das empresas brasileiras não têm planejamento tributário formalizado. Isso significa que estão pagando mais imposto do que deveriam — ou estão correndo riscos sem saber.

Conclusão: estrutura não é para os grandes — é o que torna grandes os pequenos

A ideia de que só empresas de grande porte precisam de estrutura contábil, planejamento e acompanhamento é um dos mitos mais prejudiciais ao empreendedorismo nacional.
É justamente a ausência desses pilares que impede muitos pequenos negócios de crescer, se estabilizar e se tornar referência.

Seja você um barbeiro atendendo no próprio bairro ou um desenvolvedor criando um app que pretende escalar nacionalmente, a base é a mesma: controle, análise, estrutura e previsibilidade.

Empresas diferentes, sim.
Mas os fundamentos que sustentam negócios sólidos — esses são universais.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal HojeDiario.com).