Em 2008 o mundo sofreu uma crise financeira cujos efeitos até hoje trazem desdobramentos sobre a economia de muitos países. Naquele ano estourou nos EUA a chamada “Bolha Imobiliária”, fato que, resumidamente, pode ser entendido como consequência do excesso de oferta de crédito para a aquisição de imóveis. Isso, a uma grande quantidade de pessoas que, dispensadas de comprovarem renda equivalente, foram atraídas a um sistema de financiamento que valorizou profundamente o preço dos imóveis, mas de forma irreal.
Diante da alta procura houve aumentos cada vez maiores das taxas de juros e a consequente desvalorização destes mesmos imóveis em um curto espaço de tempo fazendo com que eles não mais encontrassem interesse no mercado para que pudessem ser refinanciados quando a crise teve seu início.
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Com tanta gente inadimplente os bancos foram ficando cada vez mais descapitalizados e, sem dinheiro, estas instituições financeiras entraram em colapso, pois mesmo que hipotecados os imóveis não seguraram seu valor de mercado em meio à crise e, portanto, eram incapazes de sustentar a economia dos bancos, de modo que, reavê-los não era medida de compensação. E devido à prática de se hipotecar o mesmo imóvel diversas vezes naquele país, como modalidade de crédito, muitas famílias estavam endividadas muito acima de sua capacidade de renda e comprometidas, tendo por base um mesmo imóvel dado como garantia em diferentes contratos de financiamento.
Um efeito gravíssimo gerado por essa onda de oferta de créditos nos EUA é que muitos bancos daquele país lançaram no mercado internacional títulos que foram lastreados nos valores dessas hipotecas, obviamente antes do estouro da Bolha. No momento de sua aquisição, tais títulos das dívidas não apresentavam riscos que pudessem causar desconfiança sobre a economia americana por parte dos demais países, sobretudo da Europa. Assim, muitos deles foram gerando ativos em Companhias de Seguros, Fundos de Pensão e Governos, entre outros, de modo que, com o advento da crise, seus efeitos fatalmente alcançaram a economia dos países adquirentes desses mesmos títulos.
Como agravante dessa crise imobiliária, houve raro processo inflacionário interno provocado pelo alto financiamento das guerras comandadas pelo governo americano em territórios do Afeganistão e do Iraque. Além disso, para conter a escalada inflacionária o “Banco Central Americano” (Federal Reserve) passou a aumentar gradualmente as taxas de juros fixadas como forma de redução desta escalada. Como vinha ocorrendo forte estagnação da renda das famílias americanas, já desde a década anterior, muitas acabaram estranguladas financeiramente e encontraram nas medidas de financiamento imobiliário uma oportunidade de conter tal estrangulamento, o que, não resultou em efeito prático dada a vulnerabilidade destas mesmas medidas de farto acesso ao crédito.
O marco difusor da crise de 2008 foi a quebra de um dos mais tradicionais bancos americanos, o Lehman Brothers, que em setembro daquele ano decretou falência, gerando profunda ameaça e concretude do efeito cascata sobre outras muitas instituições financeiras americanas. Como o governo dos EUA não optou por salvar os bancos injetando créditos diretos, houve uma corrida no mundo todo por parte dos investidores, no sentido de resgatar os títulos antes adquiridos e já não mais saudáveis, provocando crise de liquidez no mercado global. Após muita resistência, o governo americano utilizou dinheiro público para conter a sangria, o que não impediu que ela se alastrasse pelo mundo.
A Europa em particular sofreu os efeitos dessa crise muito mais fortemente em 2011 e alguns países do continente tiveram que adotar políticas de austeridade fiscal que resultaram em crises internas e na Zona do Euro, tendo como um dos casos mais emblemáticos a contratação pela Grécia de grandes empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) como forma de enfrentar o aumento do desemprego, a desvalorização da moeda e um colapso econômico que se anunciava como irreversível para o país.
No Brasil, o governo do então Presidente Lula, tratou a quebradeira nos EUA e na Europa como muito graves, mas com baixo efeito no país, a ponto de tê-la classificando como uma “marolinha” e não como um Tsunami, tal como sentido nos outros países. Mesmo assim, o governo brasileiro adotou fortes e bem sucedidas medidas econômicas anticíclicas, ou seja, que giravam na contramão da crise internacional, estimulando crédito e oferecendo vantagens para que empresas pudessem aumentar a produção e a população assim pudesse acessar bens de consumo duráveis, principalmente os da chamada linha-branca de produtos, como eletrodomésticos que tornavam-se fundamentais na construção de um estado de bem-estar das famílias brasileiras.
Ainda assim, todas essas questões geraram muitas incertezas no Brasil e o inicio do ano de 2009 foi marcado pela tomada de decisões que levaram muitos municípios a contingenciar gastos públicos a fim de evitarem que eventuais desdobramentos da crise pudessem comprometer a capacidade de investimentos no curto e no médio prazos. Até porque houve um forte aumento da inflação, a retração do PIB e o aumento do dólar no Brasil, como consequências inevitáveis ao país.
Para muitos analistas, a crise de 2008 guarda forte semelhança com a que aconteceu em 1929, época da Grande Depressão. Foi um tempo difícil, ainda não totalmente superado, que demonstra o quanto decisões tomadas tão distantemente de nosso território são capazes de trazer consequências na vida de uma população completamente alheia a tais movimentos globais na economia.
Essas reminiscências têm por objetivo chamar a atenção para a tomada de consciência macroeconômica por parte da população como um todo, e não somente por parte dos operadores do mercado e do sistema financeiro, pois tal consciência a ajuda compreender as inúmeras facetas do capitalismo em sua forma atual e, portanto, torna-se fundamental para enfrentar os males por ele causados.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)