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“Esperança”, por Marco Tanoeiro

Desde que me conheço por gente tenho por hábito usar a expressão: “A esperança é a última que morre”. Essa deve ser também a realidade de quem está lendo este texto. A frase faz parte da lista de expressões comuns do cotidiano brasileiro. Mas como também é comum para tudo aquilo que falamos quase que instintivamente todos os dias, nunca tive interesse em saber suas origens. O resumo dessa prazerosa pesquisa que realizei, pertinente para os dias atuais, compartilho agora com a leitora e com o leitor.

Segundo os principais dicionários da Língua Portuguesa, “Esperança” é um substantivo feminino que significa “sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja; confiança em coisa boa; fé”. Esperança é uma crença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vida pessoal. A esperança requer uma certa perseverança. Ter esperança é acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário. Em relação à expressão que aponta a esperança como a última a morrer, há um consenso de que sua origem seja fruto da mitologia grega.

Os gregos dizem que a humanidade foi criada pelo titã Prometeu. Além de criar o homem, conforme determinado, Prometeu teria feito outras duas coisas sem o consentimento de Zeus: roubou o fogo do Olimpo para ser usado pelos homens e prendeu em uma caixa todos os males, como a doença, a loucura, a guerra e a morte. E entre todos esses males, encolhida em um canto, estava a ESPERANÇA.

Zeus, irritado principalmente com o roubo do fogo, prendeu Prometeu e o condenou a um castigo perpétuo, acorrentando-o a uma rocha, no topo de um penhasco, para que seu fígado fosse comido por um abutre feroz durante o dia e se recuperasse durante a noite. Assim, Prometeu pagaria por toda a eternidade pela insolência de tentar comparar-se a um deus.

Mas Zeus não parou por aí. Criou também uma belíssima mulher, a quem chamou de Pandora, e a mandou à Terra, onde acabou por casar-se com Epimeteu, irmão de Prometeu. Pandora, além da beleza, possuía as virtudes da inteligência e da bondade, mas um grave defeito: a curiosidade. Pois a bela criação de Zeus encontrou e abriu a caixa que aprisionava os males. Ao perceber o erro cometido, Pandora conseguiu fechar a caixa, mantendo aprisionada, encolhida num canto, somente a Esperança.

A partir de então, os humanos começaram a sofrer com sua condição de fracos, incompletos e mortais, que só conseguem continuar vivendo e povoando a terra porque sabem que da caixa também pode sair um dia a Esperança. Daí a ideia de que a Esperança é a última a morrer, pois enquanto estiver aprisionada sua existência estará garantida.

Então, a Esperança é um dos males da humanidade? Se a esperança é uma coisa que consideramos tão boa, o que estaria ela fazendo junto com os outros males, dentro da mesma caixa?

A versão mais aceita para essa questão diz que a esperança era filha da mentira e, por isso, considerada má. A verdade jamais pode ser ignorada, por mais cruel que seja, e a esperança muitas vezes desvia a atenção dos homens, afastando-os da realidade, deixando-os ainda mais fracos.

De qualquer forma, as respostas para essas questões gerariam vários outros textos, pois estão diretamente ligadas ao olhar que cada um de nós possui de nossa própria existência. Enquanto a doutrina cristã coloca a Esperança como uma das três virtudes teológicas, ao lado da Fé e do Amor, o niilismo se contrapõe, classificando como vã a esperança do ser humano de ser contemplado por algo que ele apenas imagine que exista.

Por fim, diante da quadra histórica atual, em que o Mundo parece viver em constante contato com os males liberados por Pandora, meu desejo é que a humanidade encontre meios de superar suas adversidades, retomando a ideia do “comum” como o melhor caminho para nossa subsistência harmoniosa nessa orbe chamada Terra.

Que a Esperança continue protegida dentro da caixa criada por Prometeu. Afinal, ser o último a morrer é bem diferente de ser imortal.

(Esse texto não expressa, necessariamente, a opinião do site HojeDiário.com)