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“A infinitude dos livros”, por Marcelo Candido

Enquanto a observava ali sentada lendo um livro, alguém que aparentemente já ultrapassara a barreira dos 70 anos de idade, tentava, sorrateiramente, acessar aquele infinito diante dos meus olhos. Acredito que cada pessoa sozinha já é um universo inescrutável. Lendo um livro ela torna-se, então, infinita!

Sendo uma história criada, a leitora passava à condição de coautora de quem assinava o livro, pois tudo o que se extraia de sua narrativa sofria, inadvertidamente, as influências daquela longeva senhora por conta de suas análises, deduções e inferências. Desta confluência, o livro poderia alcançar novos significados, ao ponto de fazer com que quem o tivesse escrito já não mais pudesse dominar por completo o próprio conteúdo criado, em razão das divagações surgidas daquele universo particular. E o livro, na interação de tantas outras pessoas ao redor do planeta, acaba por se tornar uma fonte subjetiva, podendo assim, influenciar a história universal.

Quem lê, derrama sobre o livro toda a sua própria experiência, fazendo dele uma obra de consequências tão variáveis quanto maior o número de leituras. O livro permite a quem o escreve dar vida e significado a muitas personagens e histórias, tornando a leitura a celebração do universo criado. Em meio a tanta quimera, especulei sobre a leitora e o muito que a influenciara ao longo da vida. No entanto, ao me concentrar na capa do livro, percebi-me inválido para compreendê-lo, pois estava escrito em árabe! Fiquei então pensando que a leitora poderia ser guardiã de uma cultura que fosse capaz de explicar o mundo através da síntese de civilizações distintas.

Mas, mesmo assim, do que trataria o livro? Sem saber, como que eu poderia conhecer aquele mundo latente? Eis que de repente aparece o número da minha senha no painel do hospital, e ao me levantar e passar bem pertinho daquela mulher percebi seu olhar absorto e feliz colocado sobre aquelas palavras ininteligíveis para mim. Saí da consulta e ela já não estava mais ali. Fui embora pensando que só pela sua presença, o livro foi capaz de despertar uma quantidade enorme de fabulações e, sendo assim, através dele, somos capazes de contemplar o infinito.

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)