O ato de escrever é algo importante porque, entre outras inúmeras possibilidades, permite que os fatos sejam registrados enquanto eles acontecem. Isto é algo intrinsicamente ligado à atividade jornalística, embora não de forma exclusiva. No futuro, os textos agora produzidos servirão como documentos para ajudar a compreender os desdobramentos deste nosso tempo sobre as gerações futuras. Portanto, o registro das impressões sobre o que hoje ocorre tem grande importância para que possíveis aberrações que acabam normalizadas, doravante não se repitam.
Em outubro de 1977, o escritor Moacyr Scliar publicou uma crônica que, embora escrita há quase 44 anos, ajuda muito a entender os efeitos da falta de freio sobre o inadmissível na história. Na ocasião, Scliar tratou sobre uma aparente glamorização de Adolf Hitler e seus efeitos sobre a sociedade da época. Mesmo entendendo que tal atração pudesse vir revestida de linguagem literária ou cinematográfica, de fato, a ausência de uma abordagem crítica fazia crescer o número de simpatizantes do nazismo, fazendo da arte uma peça de propaganda involuntária. Como efeito, ao invés de uma rejeição, poderia advir uma inspiração.
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Ao seu modo, Moacyr Scliar optou por ironizar a presença nada sutil de um nazismo ressurgente sugerindo a adoção de uma variada forma de consumo de produtos que fizeram do regime o exemplo mais extremado das práticas da extrema direita para eliminar seus opositores, cuja crueldade e horror jamais seriam reconhecidos caso não existisse farta documentação, imagens e escritos históricos críveis e fieis. “Os totalitarismos se refugiam no silêncio e nas sombras”, disse o escritor. E mais: “Onde quer que tenhamos a intolerância, a repressão, o racismo, o velho Adolf estará presente, em espírito.”
Quem acompanha o comportamento de alguns dos atuais mandatários do Brasil através de seus feitos, imagens, ideias e discursos, haverá de identificar a presença enrustida dos elementos clássicos do nazismo, inclusive na tentativa de defender os valores da pátria, da família e da religião. Isso em quase nada se difere dos eventos históricos que marcaram o posicionamento de massas populares em defesa de uma causa que foi parar no tribunal de Nuremberg quando foram julgados os crimes do nazismo contra a humanidade.
(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)