Houve um tempo longínquo na história do desenvolvimento de nossa espécie que tudo se apresentava como um desafio a ser descoberto. O encantamento e o medo jaziam no topo dos mais relevantes sentimentos humanos. Em boa medida, as escolhas posteriormente tidas como acertadas ou equivocadas, valiam de teste para as que deveriam ou não seguir sendo feitas, até que certos afazeres e costumes fossem incorporados aos hábitos da humanidade. Fenômenos da natureza eram tidos como sagrados, causavam espanto e poderiam somente ser entendidos como consequência da vontade divina, tal sua magnitude e ocorrência inexplicáveis.
A evolução da espécie foi moldando o nosso entendimento acerca desses fenômenos naturais, tornando-os pouco a pouco compreensíveis com o advento da ciência. Nossos ancestrais exploravam o desconhecido sobre a superfície do planeta tal como hoje o fazemos em relação ao vasto universo no qual a Terra é comparável a um pixel solitário na imensidão cósmica. E ainda existem muitas coisas a serem descobertas, o que faz da nossa jornada uma busca infinita a partir da esfericidade deste nosso planeta. No princípio, tínhamos nosso planeta a ser desvendado; depois ambicionamos compreender todo o universo, e também os corpos na escala do muito pequeno, como átomos e partículas subatômicas imanentes à física quântica. Somos seres naturalmente insaciáveis por novas descobertas.
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Porém, parece que a história nos conduziu a certa acomodação pessoal e coletiva, sustentada por valores que definem uma cultura de consumo de massa próprio do sistema capitalista, que redunda em enjaular parte da nossa capacidade de nos encantar diante do mistério da existência como quando era no passado. Perder esse encantamento faz desvanecer o poder de perceber a singularidade de todos os fenômenos, inclusive daqueles que permitem a nossa existência e que nos instigam a fazermos sempre novas descobertas.
Precisamos voltar a admirar a vida como algo ainda incompreensível e a perceber a materialização do grande e verdadeiro milagre nas pessoas que conosco experimentam essa existência rara no universo. Somos o milagre em movimento, a consciência do planeta. Entretanto, já não mais percebemos o quanto nos tornamos insensíveis quando desprezamos a existência de outra pessoa ou permanecemos indiferentes ao seu sofrimento. Façamos de nossa presença no mundo um testemunho vivo de amor e acolhimento a todos os seres vivos na certeza de que, juntos, formamos o complexo mecanismo da vida, que nos torna a todos interdependentes para o pleno funcionamento de um mundo infinito.
(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)