Quando criança e ainda na adolescência costumava me postar em frente à Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Jardim Revista, e, de costas a ela, olhar a cidade de Suzano lá de cima. A sensação era de enorme integração ao território a partir daquele ponto de vista, como se ver a cidade de cima me colocasse não como mais uma personagem das histórias construídas naquele lugar, mas como parte de um todo indissociável que dava sentido à ideia de comunidade.
O alto me fazia vislumbrar aquele horizonte que esbarrava nos morros, como se estes fossem delineadores do espaço circundado, acolhendo as muitas vidas que dentro dele se estabeleciam, assegurando identidade ainda mais coletiva à cidade. Estar em perspectiva a pontos tão difusos fazia o olhar varrer aquele vasto território cujos acontecimentos não me davam a perceber o quanto meu vagar prenunciava o encontro que eu teria, anos depois, com o comando mais alto da cidade.
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Gostava de contemplar a arquitetura, a paisagem e a vida interagindo dentro daquele espaço plural. A construção atrás de mim ainda guarda tanto da minha experiência pessoal, que até hoje percebo nela o símbolo do lugar que mais me encanta e emociona no mundo, embora eu já tenha tido a oportunidade de visitar vários lugares em quase todos os Estados brasileiros e da mesma forma ter posto meus pés em distintos países em três continentes do planeta.
Como alguém que já viu e respirou diante de marcos arquitetônicos e arqueológicos tão importantes para a história da humanidade, muito dos quais milenares, tem em uma modesta igreja o sentido do que seja o seu lugar no mundo, até diante do fato de não mais pertencer aos quadros de sua instituição há tantos anos? Não será a fé a resposta a essa indagação, tampouco o apego material representado pelos tijolos que ajudei a assentar e as vigas que ajudei a fixar, mas o sentido de comunidade mais uma vez a marcar a minha formação, corroborado pela presença dos meus pais em toda aquela jornada que fez de um terreno doado à Cúria Diocesana o edifício da sede do que agora se tornou uma Paróquia.
Portanto, há não a contemplação de um lugar magnífico para a humanidade e sim a de um lugar que ajudou a moldar minha história pessoal impulsionando dali um percurso que me lançou diante do mundo e de seus incalculáveis desafios. Da proeminência que o Jd. Revista tem diante da cidade, guardo também na memória as imagens dos dispensáveis fogos de artifício vistos lá de cima pipocando em toda a cidade em comemoração a passagem dos anos.
E com o sentimento da mais pura e indescritível gratidão às pessoas e àquele lugar é que quero desejar que os próximos anos sejam iluminados pelas emanações que somente o amor é capaz de proporcionar. Que o próximo ano traga toda luz ao nosso caminho.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)