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“Pessoas são incomparáveis”, por Marcelo Candido

Dom Quixote, personagem de Miguel de Cervantes, diz que todas as comparações são odiosas. Eu tendo a concordar com ele. Claro, possibilidade nenhuma deve ser desprezada, porém, as comparações mais simples, a rigor, fatalmente levam a distorções quando não consideram elementos essenciais que caracterizam objetos ou indivíduos postos em paralelo separadamente.

Comparar objetos, por si só, já guarda enormes desafios diante das substâncias presentes em sua composição, uma vez que as simples distinções dos materiais utilizados já os tornam incomparáveis, quanto mais quando percebidos a partir da utilidade que cada um oferece. Ao colocarmos pessoas no centro de qualquer comparação, o exercício deixa de ser apenas impossível e pode vir a ser odioso, como alerta o cavaleiro de triste figura no clássico de Cervantes.

Odioso, pois pode trazer à baila bases de sustentação associadas a diversos tipos de preconceitos ou mesmo ódio de classes, como se entre as pessoas cotejadas não houvesse um mar de histórias a ser aprofundado, ou mesmo questões de natureza antropológicas e econômicas que formam uma cordilheira quando vistos do sopé. Pessoas são incomparáveis e todas são excepcionais.

Uma pessoa sozinha, em qualquer tempo e espaço, carrega sua própria e inalienável herança genética. Ela pode até compartilhar as características dessa herança por razões óbvias, entretanto, outras condições ou mesmo experiências individuais que incidem sobre essa pessoa a farão única. Somos frutos do processo evolutivo que se formou ao longo de gerações de homo sapiens que se desdobraram ao longo de séculos até conformarem o atual estágio de nossa espécie, e no campo individual, contemporaneamente, surgimos sobre essa árvore, que faz de nós herdeiros de uma experiência até agora única no universo sondável.

Aliás, basta sermos quem somos para sermos únicos em nossa experiência que em tudo influi para definir nossa personalidade. Muito do que vemos acontecer em várias partes do Brasil e do nosso planeta, no que diz respeito às violações dos direitos humanos, tem como base ódios nascidos da comparação entre classes sociais, raças, gêneros e religiões. A política apenas captura sentimentos de ódio para deles se apropriar conforme as circunstâncias de uma época e lugar. Se cada um de nós é um universo, como cantou Raul Seixas, somos incomparáveis. E é exatamente isso que nos faz singular em um mundo pleno de pluralidade. E tal singularidade foi bela e enigmaticamente descrita em um poema de Kahlil Gibran: “Eu sou o mar infinito, e todos os mundos não passam de grãos de areia sobre a minha margem.”

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)