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“Lisete viverá educando!”, por Marcelo Candido

No momento em que escrevo este texto, o corpo dela deve estar sendo cremado neste domingo chuvoso, dia 13 de março de 2022. As redes sociais formaram um caudaloso rio através do qual muitas mensagens foram publicadas, a fim de celebrar a vida que Lisete dedicou com grandeza à educação, área de referência em sua atividade intelectual na Universidade de São Paulo.

Conheci a professora quando fui eleito prefeito em 2004 e procurava por uma mente brilhante que pudesse não apenas representar a área da educação em Suzano, mas, sobretudo, revolucionar todo o processo de oferecer às nossas crianças o universo de conhecimentos acumulados ao longo dos séculos pela humanidade, lançando mão de métodos integrativos capazes de colocar cada uma delas diante do vasto mundo, sem ser robotizada com base em conceitos meramente construtivos de futuras carreiras, mas de forma a conduzir a vida, libertária e criticamente, oferecendo assim sua própria contribuição a uma vivencia social garantidora do direito de ser quem quisesse e pudesse ser, longe dos filtros da opressão, da discriminação, do preconceito e da exclusão.

Ela ombreou-se a tal intento, sem deixar de alertar para a ambição de quem ainda não havia experimentado o quanto é desafiador romper com práticas tão entranhadas na sociedade, e que se contrapõem a um horizonte tão amplo. Lisete me ensinou a ter calma, pois conduzir a educação não é algo que se faça sem a oposição de quem não quer que esse veículo seja o instrumento por excelência da transformação social. Dispôs-se a ajudar e assim o fez.

Em 2018 nos encontramos na disputa pelo governo do Estado, quando pudemos debater sobre as ideias das candidaturas para São Paulo. Os debates foram palcos importantíssimos para que visões de mundo fossem colocadas diante do escrutínio público e contrastadas. As visões defendidas por Lisete pareciam tão graciosamente fora do lugar que, a rigor, interpretei como um registro. Se não do possível naquele momento, mas para serem consideradas em perspectiva histórica. O Estado talvez estivesse muito aquém daquilo apresentado por ela diante do eleitorado, como se a própria Lisete não estivesse apenas disputando o governo, mas anunciando perante o público a esperança do caminho que São Paulo deveria seguir.

Mais de meio milhão de pessoas a escolheram. Não foi eleita. Porém, era evidente que o resultado em si não era o mais importante, e sim a lição de que somente alcançaremos nosso lugar no mundo quando a educação for a plataforma para nos guiar pelos meandros de nossa própria existência enquanto país. Desejo que a presença da professora Lisete Regina Gomes Arelaro permaneça na forma gentil, generosa, amável e profundamente militante pela qual ela lutou em favor das causas da promoção da igualdade social e da pedagogia que fez dela uma combatente a favor das pessoas oprimidas e contra todo tipo de violência que desumaniza parte significativa do povo brasileiro. Lisete, assim, viverá educando!

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)