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“Acordar e acordar”, por Marcelo Candido

Duas palavras idênticas com significados completamente diferentes. Como é bela e complexa a nossa Língua Portuguesa! O professor Pasquale Cipro Neto falou sobre isso em uma de suas participações no quadro “A nossa língua de todo o dia” apresentado no programa “Estúdio CBN”, ancorado pela jornalista Tatiana Vasconcellos. Ao ouvi-lo, lembrei-me de acordo malogrado que fiz. Até falei a respeito, inspirado nessas diferenças, em uma entrevista ao podcast “Vai Encarar?”, comandado pelos jornalistas Brás Santos e Biel Souza, do Grupo FOCOH, quando perguntado a respeito desse malogro.

Pois bem. Celebrar um acordo significa decidir conjuntamente sobre algo de interesse comum que possa alcançar um ou mais objetivos. Falo de algo ética e moralmente aceitável, claro. Com isso, quando pessoas concordam a respeito de uma determinada questão, elas fazem acordo para que aquilo seja possível de acontecer por força dos compromissos de parte a parte. Perceba que a nossa Língua aceita o uso do termo “acordei” quando tratamos de um acordo que celebramos com outra pessoa ou grupo.

Ocorre que a palavra acordar quando dita com o sentido de despertar também vale, e traz outro conceito altamente relevante para a nossa comunicação. Acordar significa despertar, como quando acontece após uma noite de sono, por exemplo. Dita conforme esse significado, a palavra também ganha um alcance de quase revelação, pois vale como metáfora de alguém que, de repente, se dá conta de algo que parecia invisível em razão da “sonolência” que o impedia de perceber uma determinada situação. Quem acorda, não apenas se “levanta”, pois, no sentido abrangente da palavra, isso pode significar “despertar para a realidade”.

Outro significado absolutamente místico guarda relação ao ato de acordar/despertar diante do processo de iluminação conforme compreensão budista, por exemplo. Volto, então, ao ponto de confluência entre essas duas palavras grafadas identicamente. Ao acordar diante daquilo que foi acordado e, portanto, passando a perceber com a mente desperta, que quase nada do acordo foi cumprido, restam dois caminhos. Persistir ou desistir. A persistência resta quando resta a confiança. Não mais havendo confiança, resta apenas o outro caminho. Mas a desistência pode ser circunscrita apenas a respeito de quem nos acompanhava na jornada, sendo mais grandiosa a decisão de seguir pelo caminho até encontrar aquele propósito original.

Posto isto, o caminho segue até encontrarmos aquele sentido abandonado pela desídia de outrem, porém, ainda presente em nosso coração. Nunca é tarde para ACORDAR, tampouco para ACORDAR, só que desta vez com quem tenha dignidade para cumprir acordos em benefício de todos tal qual quando outrora celebrado! É isso.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)