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“Bom dia, tristeza”, por Marcelo Candido

Bom dia, tristeza / Que tarde, tristeza / Você veio hoje me ver / Já estava ficando / Até meio triste / De estar tanto tempo / Longe de você / Se chegue, tristeza / Se sente comigo / Aqui, nesta mesa de bar / Beba do meu copo / Me dê o seu ombro / Que é para eu chorar / Chorar de tristeza / Tristeza de amar.

Uma canção na voz de Elis Regina, composta por Vinícius de Moraes e musicada por Adoniran Barbosa, de 1957, sequestrou meu coração adolescente e nunca mais o libertou. Ouvi pela primeira vez a musica na versão gravada no álbum “No fino da bossa – Ao vivo – volume 3”, pelas ondas do rádio. Vale lembrar que essa gravação é um encontro entre Elis e Adoniran que enche o coração de alegria de qualquer um que a ouça.

A ironia é que “Bom dia, tristeza” – a única que traz ares tristes após tanta risada –, chega apenas no finalzinho do “pot-pourri” quando o próprio Adoniran conta que Aracy de Almeida fez chegar às mãos do músico a letra do poeta. Lindas, letra e música! Não houve mais momento em minha vida que eu não me debruçasse no ombro da tristeza quando o sentimento incorporado por ela me acometesse. Sem considerar que a tristeza é, provavelmente, o sentimento mais importante na vida de qualquer pessoa, pois tem a capacidade de salvar a cada uma se for recepcionada de forma adequada.

A tristeza que o poeta descreveu vem à mesa encontrar a pessoa que deseja consolo e a imagem que isso projetou em minha vida deu a entender que a presença encarnada de um sentimento traz consigo o valor do próprio sentimento para abrir nosso coração, confortar e nos permitir seguir adiante sem ser esmagado pela melancolia.

“Bom dia, tristeza” é uma das músicas mais imagéticas que conheço. Ouvi-la me permite criar todo o cenário ao vislumbrar uma pessoa “feliz” com a chegada da tristeza na mesa de um bar, pois essa pessoa já estava ficando triste por estar tanto tempo longe da tristeza. E quando finalmente a tristeza chega a pessoa se achega e pede o ombro dela para chorar. Chorar de tristeza, tristeza de amar.

Penso que nós devemos acolher a tristeza, não expulsá-la como se fosse o opróbrio, e, ao acolhê-la, buscar nela o conforto. Chorar e desabafar para encontrar forças e seguir em busca de alegrias, pois somos mais dignos ainda é do sentimento da alegria que aponta na direção inalcançável da felicidade.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)