Fui conhecer o Museu Judaico de São Paulo e recomendo a quem possa e queira ir que vá, pois vale a pena. Logo no pórtico do edifício se avista a mensagem em hebraico indicando que o lugar é a casa de todos os povos. O Templo Beth-El (Sinagoga), antes ali existente, foi o ponto de partida para a instalação desse museu que já faz parte do patrimônio cultural da cidade de São Paulo, que tem museus muito importantes para a cultura e a educação nacionais, sendo este Museu o guardião de um vasto acervo que preserva a memória, as tradições e os valores da cultura judaica no contexto brasileiro.
Gostaria de abordar várias das experiências que ali são possíveis, principalmente diante dos registros do holocausto patrocinado pelo Estado nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Confesso que não é nada fácil ficar ante cenas tão brutais que fazem pessoas minimamente empáticas prostrarem-se enquanto se perguntam como foi possível tamanho horror! E pior, como houve quem apoiasse tal política de extermínio sabendo muito a respeito do que ocorria. Ou, grave também, como há quem apoie, ainda nos tempos atuais, os fundamentos que levaram a esse genocídio, inclusive tecendo loas a governos de extrema-direita dentro ou fora do território brasileiro, mesmo diante da farta documentação dando conta das provas acerca das monstruosidades que foram praticadas.
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Por mais que tudo o que vi e senti mereça registro, farei isso depois. Quero, inclusive, traçar um paralelo entre as muitas experiências de tentativa de extermínio humano, ocorridas ao longo da jornada de nossa espécie em tempos mais recentes do ponto de vista da sua história. Porém, por ora, vou tratar de algo mais prosaico, ou seja, sobre um cartão postal que comprei na lojinha do museu, que eles chamam de “lodjinha”, como a ressaltar um sotaque característico àqueles que pertencem à comunidade judaica, notadamente no ramo do comércio. Pretendo tratar sobre o Museu Judaico de uma forma mais pormenorizada, mas noutro dia.
O cartão trás uma caricatura de Moisés segurando as Tábuas da Lei enquanto é visto por uma multidão que segura seus celulares registrando aquele acontecimento histórico. A brincadeira fala muito do nosso tempo. Imagine o monte Sinai tendo aos seus pés não as manifestações de devoção frente àquela revelação ou diante da confusão gerada pelas incertezas enquanto Moisés permaneceu ausente, e sim inúmeras pessoas mais preocupadas em registrar suas presenças ali, sem que apreendessem a grandeza e a importância que aquele momento iria refletir na história da humanidade.
Na caricatura, Moisés demonstra todo seu espanto diante daquela turba despretensiosa em meio a um dos mais importantes momentos das religiões abraâmicas. Muitas pessoas hoje em dia poderiam deixar de perceber e experimentar a grandeza da história passando frente aos seus olhos caso se preocupassem apenas em fazer imagens através de seus smartphones sem o esforço de entender o quanto determinado acontecimento pudesse influir na história a humanidade. Não creio que isso seja um problema, apenas que talvez fosse preferível viver intensamente aquele momento e, sobretudo, permitir a si próprio que sua retina pudesse captar um acontecimento assim tão vívido que fizesse aquele momento ser único, impermanente e irrepetível.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)