Das muitas questões relevantes que podemos apontar em favor das pessoas que moram nas cidades brasileiras está a do combate à chamada poluição sonora. O assunto coloca em debate a pertinência ou não dos diversos elementos que contribuem para a existência de uma miríade de sons que ocupam o nosso dia a dia sem que, em muitos casos, sequer sejam notados. É aquela profusão de ruídos com a qual já nos acostumamos, mas que quando chamados à atenção percebemos o quanto eles podem ser danosos à saúde.
Aconteceu comigo algo que ilustra bem a ocorrência de sons que somente percebemos quando prestamos atenção. Um cachorro, meu companheiro dos tempos da universidade, desapareceu e eu me pus a tentar encontrá-lo. Infelizmente isso não aconteceu e o resultado foi devastador pra mim. Até hoje, vez ou outra, penso nele, principalmente quando vejo cães da mesma raça perambulando felizes na companhia de seus tutores. Enquanto o procurava, me coloquei atento sobre a laje da casa onde morava para ouvir um possível latido dele, trancafiado que pudesse estar sob o jugo de quem o roubou ou sob a proteção de quem o encontrou e amparou. Quando meus ouvidos foram postos em função dessa necessidade já em noite avançada, percebi incontável quantidade de latidos varrendo a noite da periferia, ou seja, era impossível distinguir meu cachorro caso ele também estivesse latindo. Daquela relação restou a saudade e o enorme amor que guardei por ele.
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Se nesse exato momento você que me lê fizer uma pausa e voltar às atenções aos sons ao seu redor, seguramente vai identificar todo tipo de ruído e, se fizer um esforço, poderá anotar quais os tipos. E se surpreenderá a respeito da quantidade e diversidade de sons. Isso ocorre o tempo todo com variação de acordo com os períodos do dia. Por esse motivo as cidades precisam regular a emissão de sons para que eles não se tornem tormento na vida das pessoas, como ocorre com aqueles emitidos por bares e casas de espetáculos que impedem aos moradores do entorno o direito a um sono tranquilo.
Lamentavelmente alguns gestores municipais optam por não regulamentar essas ocorrências ou por não fiscalizar os estabelecimentos a fim de preservar um determinado tipo de conivência baseada em interesses escusos, quando não são os próprios os maiores interessados no butim oriundo dessas atividades ruidosas. Existem várias alternativas a fim de se reduzir o problema da poluição sonora em nossas cidades, porém elas exigem capacidade de planejamento de longo prazo, algo que não está presente na cabeça de boa parte das pessoas que comandam muitas dessas localidades urbanas.
O ideal é construir soluções no âmbito dos territórios segundo as suas características, de modo a permitir que gradativamente as cidades possam ser mais agradáveis aos ouvidos das pessoas e dos animais. Entretanto, medidas de redução da poluição sonora podem ser tomadas imediatamente, como a fiscalização dos estabelecimentos barulhentos não apenas em razão deste problema, mas também acerca de sua regularidade de funcionamento. Isso aumenta o conforto no dia a dia das cidades e também ajuda na melhora da saúde da população. Cabe a nós denunciarmos a poluição sonora para assim pressionar os governos insensíveis ou mancomunados com os que a mantêm.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)