Às portas deste século, o PT me escolheu para ser candidato a prefeito de Suzano. Tinha acabado de completar 30 anos de idade e nunca havia disputado uma eleição em toda a minha vida. Mesmo com os mais de 40% dos votos que obtive entre os cinco candidatos, fui derrotado por Estevam Galvão de Oliveira que se reelegeu para tomar posse do seu quarto mandato de prefeito, com 42% dos votos.
Antes daquele pleito, ele havia sido eleito vereador no início dos anos 1970 com o equivalente a 10% dos votos válidos, algo impossível de superar, acredito, para todo o sempre em Suzano. Em 1982 ele foi eleito deputado federal, o único suzanense a ocupar tal mandato genuinamente até hoje.
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Havia cumprido até o ano 2000 dois mandatos de deputado estadual, sendo líder de seu partido na Casa e relator do Orçamento do Estado de São Paulo, uma das mais importantes atribuições que pode ter um deputado. Sempre foi e continua sendo um político influente, próximo de presidentes da República e de Governadores do Estado. Bem relacionado com personalidades políticas e econômicas poderosíssimas. Controlava a imprensa com total desfaçatez. Empresários influentes financiavam suas campanhas. Ele já havia superado a liderança de prefeitos antes muito fortes como Firmino José da Costa e Pedro Miyahira.
Naquele início do século ele contava com Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República e com Mário Covas no Governo do Estado. É o homem com tal histórico político que enfrentei e quase derrotei nas urnas naquele ano de 2000, numa disputa que até hoje é lembrada como a mais acirrada na história da cidade.
Quatro anos depois voltei a disputar a eleição para prefeito, porém, já como deputado estadual, eleito dois anos antes com a maior votação da história de Suzano até então. Desta vez me elegi com quase 50% dos votos e me tornei prefeito pela primeira vez, o primeiro oriundo da periferia da cidade, o mais jovem e o primeiro e único negro até hoje a ocupar tal função.
Quando eu disputava a reeleição, Estevam decidiu me enfrentar e o derrotei obtendo mais de 50% dos votos válidos. Em 2016 trabalhei pela eleição de Rodrigo Ashiuchi, que se elegeu prefeito depois de sofrer seis derrotas para diferentes cargos que disputou, incluindo três tentativas de se eleger vereador. Foi com determinação, trabalho, consciência de classe, partido, militância, ideias e, sobretudo, com o sentimento de reconstruir Suzano que passei a fazer parte da história da cidade.
Foi a população que me permitiu construir essa história tão tenaz, identificada em todos os seus aspectos à vida média de tanta gente que sonha e luta por uma cidade justa e democrática, onde os direitos sejam assegurados e respeitados. Foi sob meu governo que a periferia entrou no mapa da cidade com respeito e dignidade, quando tantas ações passaram a marcar a identidade e a paisagem da cidade, além da primazia que foi investir na área social como nunca antes na história de Suzano.
Não se trata aqui de prestar contas, mas apenas de deixar um registro de reconhecimento, independentemente de qualquer juízo, da importância de ter enfrentado com coragem um adversário da grandeza política de Estevam Galvão de Oliveira. Independentemente da grande cordilheira que nos separa ideológica, histórica e politicamente, e também das infrutíferas táticas por ele adotadas para tentar me derrubar, registro aqui meu respeito e admiração pelo currículo que somente Estevam Galvão tem dentro de toda classe política local e regional.
Rendo minhas homenagens a ele como homem público que cumpre seu papel na política e no parlamento paulista até hoje. Mesmo porque, depois de 2000, ele conquistou vários outros mandatos eletivos na Alesp, entre os quais um de Subprefeito de Guaianases, indicado que foi pelo então prefeito José Serra. Derrotá-lo fez bem para a democracia. E para a história de Suzano permanecerá como exemplo do momento em que o que parecia impossível aconteceu.
Tenho enorme gratidão por ter sido um dos protagonistas desta epopeia inesquecível.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)