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“Os dez minutos que abalaram o mundo!”, por Marcelo Candido

Assim que acabou o jogo final da Copa do Mundo do Qatar no dia 18 de dezembro do ano passado, ainda tomado pelo efeito de ter assistido ao maior jogo da história do futebol, segundo muitos especialistas, escrevi um texto que acabou por ficar arquivado na memória do meu computador. Seria a segunda parte de um artigo dedicado à Copa, e o título começaria assim: Segundo tempo etc. Revisitando os arquivos resolvi oferecê-lo ao distinto público, porém, sem as amarras da sequência. Até porque, ao contrário da primeira, mais crítica, a segunda parte nasce sob o efeito do êxtase causado pelo que eu acabara de testemunhar. Foi numa “canetada” só! E ainda vale.

Não era o Brasil em campo, mas era o futebol em sua plenitude. Amo do mesmo jeito. A seleção Argentina entra em campo e domina totalmente o jogo no primeiro tempo contra a seleção Francesa. Surpreende! O escrete francês não resiste e sofre dois gols construídos na raça e na técnica pelos argentinos. Quando começa o segundo tempo, a partida transcorre como no primeiro até restarem 10 minutos para o final. O mundo ainda não sabia que ali se descortinava o início de um espetáculo que marcaria para sempre o esporte mais amado do planeta! Nestes 10 minutos finais aconteceu o ponto de inflexão que entregaria a melhor e maior final de todas as Copas do Mundo, dificilmente superável em todos os aspectos. Foi durante esse período que a equipe da França conseguiu o empate.

O time de Messi sai na frente no segundo tempo da prorrogação e os franceses empatam novamente, numa prova de resiliência impossível de acreditar. Nos pênaltis, vencem os argentinos, e nossos vizinhos tornam-se tricampeões do mundo. Um espetáculo! Dois gigantes comandando cada lado do campo: Lionel Messi e Kylian Mbappé. Inesquecível! Tudo isso no Qatar, a pior anfitriã de todos os tempos do ponto de vista dos valores políticos e humanos universais.

O futebol explica muita coisa, inclusive o mundo! Mas não é sobre entender o mundo à luz deste esporte tão espetacular – com o perdão da propaganda involuntária – que desejo falar neste espaço, mas sobre a beleza quase indescritível da arte nele presente, como se o traço aqui rabiscado fosse capaz de retratar algo irretratável. E falo de uma arte que tem como lugar de exibição não os museus, teatros, cinemas ou pinacotecas, e sim o de um Estádio, ou de uma Arena, como se convencionou chamar o palco dos jogos de futebol. Uma arte que une a obra e o público de tal maneira que ao final temos uma simbiose perfeita.

É como quando o gozo após o termino, dá aos corpos misturados a sensação do infinito. Fosse entre dois ou mais corpos encaixados estaria falando de orgasmos em profusão, o que não vem ao caso. Falo, no entanto, de homens e mulheres “encaixados” loucamente na soma de quem ocupa o espaço dos assentos e o do campo. Parecem todas as pessoas da torcida campeã sob efeito da ocitocina produzida “coletivamente”, cuja amplificação se dá pelo alcance das transmissões que atingem todo o planeta, dando à Copa do Mundo de futebol a sensação de que ela representa a vastidão do universo.

Já houve quem tentasse invalidar um concurso de miss-universo por ele não ter representantes de outras partes do Cosmos e sim apenas de belas mulheres nascidas sobre a Terra. No futebol há mais modéstia, pois a Copa é do mundo! Por maior que seja seu tamanho, o mundo da Terra não é tão vasto como o universo, que sequer tem fim. Aliás, não contraditoriamente, o Universo pode ser tão diminuto que caiba dentro de uma única pessoa. O mundo é mais metafórico. O universo tende ao infinito e não contradiz Raul Seixas nem Paulo Coelho porque também cada um de nós é um universo. Um universo que cabe no mundo, um mundo que cabe em cada pessoa.

Uma podcaster, Natália Sousa, do “Para dar nome às coisas” pergunta sempre antes de cada audição de seus ouvintes: “como que está o seu mundo dentro desse mundo?”. Esse esporte é tão gigantesco que um autor dos Estados Unidos escreveu um livro cuja pretensão foi “explicar” o mundo a partir do futebol. Quero falar sobre o livro “Como o Futebol Explica o Mundo”, de Franklin Foer, aqui um dia, quem sabe, mas, hoje, fiz todo esse circunlóquio atabalhoado para render minhas homenagens a Lionel Messi, atleta que se consagrou – como se já não o fosse – perante olhos atônitos que puderam ver a história acontecer diante de si como quem sabe que está vendo uma obra de arte ser esculpida sob o escrutínio de uma multidão. Uma arte que será exibida infinitamente com o arrastar do tempo.

É o futebol, que com sua mágica confunde as sensações do público. A Copa do Mundo do Qatar aqueceu os corações de quem ama o futebol e foi naquele minúsculo e controverso país que aconteceu a vitória da Argentina de Messi, o gênio, sobre a França, do brilhante e monumental Mbappé. O argentino radicado na Europa saiu maior do que o mundo, tornou-se universal! No último dia da Copa saí diante da tela com a sensação de ter visto não apenas uma partida de futebol, mas com a de ter estado defronte a uma obra de arte de valor incalculável, que permanecerá exposta para a admiração do público pelos confins do tempo.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)