No dia 1° de Julho, vou fazer 22 anos de padre. Ao longo da minha caminhada vocacional, iniciada no início da década de 90, tive como modelo vários sacerdotes, entre eles destaco aqui um: o Padre Ezequiel Ramin.
Nos encontros vocacionais daquele tempo, ao ouvir o testemunho de uma freira que o conheceu, pude notar que o ministério sacerdotal iria muito além da sacristia. E hoje percebo, juntamente com vários irmãos padres, que as pessoas partilham conosco seus sonhos e pesadelos, angústias e esperanças. Este período eclesial foi profeticamente forte, muitos religiosos tiveram a sua vida ceifada. Ainda hoje, há muitos irmãos sacerdotes, religiosas(os) e leigos(as) que, por amor a Cristo, vivem em situações tensas e precárias pelo mundo afora, que Deus os proteja.
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Padre Ezequiel era italiano, foi ordenado sacerdote em 1980, e aos 30 anos foi enviado em missão ao Brasil. Desejava viver uma experiência de fronteira. Em abril de 1983, antes de chegar ao Brasil, partilhou: “Ainda não sei aonde irei, porém estou contente com o fato de partir. É uma coisa mais forte do que eu.” Depois de fazer um curso de português e da realidade brasileira em Brasília, foi destinado a trabalhar em Cacoal, Rondônia.
Não demorou muito também para se deparar com os conflitos de terra que havia naquela região. Essa realidade o incomodava profundamente. Não se continha diante das desigualdades sociais, da concentração dos bens da criação nas mãos de poucos, das injustiças, do uso da violência ou da manipulação das leis para oprimir os pequenos. Diante disso, o referido padre colocou-se corajosamente em defesa dos indígenas e dos trabalhadores rurais sem-terra na luta pelo direito à terra e à vida digna, vivendo de modo muito concreto a opção pelos pobres.
Em várias ocasiões tratou publicamente desses assuntos, como quando falou: “o meu trabalho aqui é de anúncio e denúncia. Não poderia ser diferente considerando a situação do povo. Precisamos apoiar bastante os movimentos populares e as associações sindicais. A fé precisa caminhar junto com a vida […]”
Esta postura lhe trouxe a estima dos pobres, mas o rechaço daqueles que achavam que o padre não poderia se comprometer com os problemas sociais. Logo chegaram as ameaças e as perseguições. Porém, Ezequiel manteve-se fiel até o fim. Como Jesus, ofereceu a Deus e ao povo a sua vida, e também a sua morte. Ele mesmo falou em uma das missas: “Não aprovamos a violência, embora recebamos violência. O padre que está falando recebeu ameaças de morte. Querido irmão, se a minha vida lhe pertence, a minha morte também lhe pertencerá.” E assim aconteceu…
No dia 24 de julho de 1985, o Pe Ezequiel Ramin, aos 32 anos de idade, foi brutalmente assassinado quando voltava de uma missão de paz, na qual havia visitado posseiros na Fazenda Catuva para pedir-lhes que se retirassem, pois corriam perigo. Foi pego de surpresa pelos pistoleiros a mando de fazendeiros. Seu corpo recebeu muitos tiros de espingarda. Ficou caído na estrada a uns 50 metros da traseira do carro. Os mandantes do crime nunca foram presos. Unidos espiritualmente ao Pe Ezequiel Ramin rezemos a Deus por todos que sofrem injustiça e perseguição. Deus vos abençoe queridos!
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)