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“Qual o papel do homem no combate à violência à mulher?”, por Geraldo Garippo

Essa é uma pergunta importante a ser feita… não apenas nas campanhas do Agosto Lilás, mas no cotidiano. A desestruturação da cultura de violência, em especial contra a mulher, passa por essa reflexão junto ao grupo “agressor”. O debate sobre masculinidade na nossa sociedade ainda é considerado tabu, mas para que os homens se somem na luta contra a violência de gênero, precisamos ir além das rodas tradicionais.

Os homens devem reconhecer as atitudes e os comportamentos machistas, marcados pela imposição física como condição de relação. Refletir sobre estes comportamentos e parar de reproduzi-los no seu dia a dia, em especial no que se refere nos processos de educação formal e informal de meninos. Esta é uma discussão muito mais profunda, mas não podemos ignorar a urgência de fazê-la.

Indo além, os homens devem se posicionar quando presenciar casos de agressão física a uma mulher, assédio e outros tipos de violência. É importante que o agressor saiba que sua atitude não é aceitável não só pelas mulheres, mas pela sociedade, pelos seus pares. O mesmo serve para piadas machistas em círculos de amigos e no ambiente de trabalho.

De acordo com o Mapa da Violência contra a Mulher publicado em 2015, duas em cada três dessas vítimas de violência foram alvo de violência doméstica e sexual, o que demandou, nas unidades de saúde do país, um atendimento diário, em média, de 405 mulheres.

Se trata de uma luta pelo combate à violência intrafamiliar, na qual nós, homens, precisamos repensar nossa atuação, sobretudo porque também podemos ser alvos indiretos da violência doméstica. Afinal, qual de nós suportaria a ideia de ver nossas mães, irmãs ou filhas como vítimas desse tipo de violência?

O masculino é tradicionalmente estimulado a “ser o mais forte”, “ser o provedor do lar”, a “não chorar”, “a demonstrar força física” e “a não poder demonstrar carinho e sensibilidade”, a “ser o campeão sobre o outro” o que acaba por, inconscientemente, atrelar-se à ideia de dominação. Isso é uma construção social que precisa ser desestimulada. Devemos deixar de ser opressores em potencial.

Apesar da implementação de mecanismos jurídicos e políticas públicas para a proteção das mulheres, como a Lei Maria da Penha, os índices de violência contra o gênero feminino, como agressões físicas, psicológicas, verbais, patrimoniais e sexuais, continuam crescendo de forma alarmante. Por exemplo, o feminicídio — homicídios de mulheres nas residências — aumentou 10,6% entre 2009 e 2019, e 76% das mulheres trabalhadoras relatam já ter sofrido violência e assédio no ambiente de trabalho.

Existem algumas possíveis explicações para esse fenômeno, como casos em que homens acreditam na impunidade da lei ou por total despreocupação com as consequências e o machismo estrutural.

Falas, atitudes, comportamentos, atuação da mídia, momento político fazem parte da construção da cultura de violência. Todos já ouvimos “em discussão de marido e mulher, ninguém mete a colher” ou que “homem não consegue se controlar”. Na prática, é como se houvesse uma permissão velada para que os homens fossem violentos com as mulheres.

Quebrar esse ciclo da violência doméstica e dever de todos e todas, e sem o posicionamento dos homens, teremos avanços pequenos… não basta não ser agressor, é preciso ter o homem engajado no combate à violência doméstica.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)