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“Discriminação na contratação de mães: até quando?”, por Rebeka Assis

Como advogada trabalhista e empreendedora, sei que uma das grandes dificuldades das relações de trabalho é o momento da entrevista de emprego. E isso vale para ambos os lados.

Quem contrata procura alguém que preencha as funções de forma adequada. Quem quer ser contratado busca a recolocação no mercado e a chance de iniciar ou continuar uma carreira.

O momento da entrevista serve para descobrir se existe um “match“ entre pessoa e empresa e se aquela relação pode gerar frutos profissionais.  

Mas preparar uma entrevista para uma vaga exige respeito, ética e, sobretudo, educação para com o(a) entrevistado(a).

E infelizmente não foi isso o que aconteceu em um episódio que ganhou as redes esta semana. Confira abaixo a polêmica.

“Sempre difícil contratar quem tem filhos”

Uma moradora da cidade de Cariacica-ES fez um desabafo na internet sobre uma situação que viveu, ao se candidatar para uma vaga de emprego.

Nos prints divulgados, é possível identificar que a candidata teve uma entrevista virtual marcada para às 08h da manhã, contudo não recebeu nenhum link ou mensagem do recrutador, informando um possível atraso.

Às 11h, o responsável pela entrevista entrou em contato, querendo realizar a chamada de vídeo naquele momento. Como precisava levar o filho para a escola, a candidata informou que não seria possível, e questionou se poderia ser mais tarde.

O recrutador respondeu que tinha compromissos e, ao ver a mulher informar que entendia, pois também tinha compromissos, replicou: “posso imaginar a rotina de tantos compromissos de um desempregado”.

Ao explicar que a entrevista havia sido marcada para às 08h e que não poderia fazer naquele momento – às 11h – pois precisava arrumar o filho para ir à escola, a candidata recebeu a seguinte mensagem: “sempre difícil contratar quem tem filhos mesmo. Dica: foque no que quer”.

Abaixo, estão os prints na íntegra, que foram disponibilizados pela candidata em seu LinkedIn.

Foto: Reprodução/LinkedIn.

Precisamos falar sobre respeito

Antes mesmo de comentar sobre a fala relacionada aos filhos, vale ressaltar que a atitude do recrutador é completamente errada. Não cumprir com o horário marcado de uma entrevista é algo sério, ainda mais sem passar qualquer posicionamento para o candidato.

Além de tirar a credibilidade da empresa que ele representa, ainda traz um ar de arrogância, como se os candidatos à vaga não pudessem ter qualquer outro compromisso em suas vidas e estivessem 100% à disposição da sua agenda.

Isso, inclusive, já leva a pensar o que essa empresa exigirá do futuro funcionário, se em uma entrevista de emprego o comportamento apresentado já é esse.

E aqui está um dos problemas, pois:

  1. Se a empresa tiver valores de respeito e ética, sendo o caso do recrutador uma situação isolada, a sua reputação já pode ser manchada, pois o responsável pela entrevista representa a imagem e interesses da empresa;
  2. Se a empresa seguir a mesma linha de pensamento arrogante do recrutador (que pode ter algum cargo de confiança ou até ser o dono do negócio), acredite: ela não durará por muito tempo.

E afirmo isso sem medo de errar, porque é impossível alguém ter um trato desses com seus funcionários – que são o coração de uma empresa – e não ter problemas com pedidos de demissão, processos trabalhistas, denúncias no Ministério Público do Trabalho (MPT), entre outros.

Ademais, vale mencionar que a candidata não divulgou o nome da empresa, limitando-se a expor o caso como um alerta.

Sobre a contratação de mães

Passando pela fala sobre a suposta dificuldade de contratar quem tem filhos, é difícil acreditar que em 2023 ainda exista esse tipo de pensamento.

Alguns clientes meus têm profissionais mães como líderes em suas empresas (supervisoras, gerentes etc.) e, de longe, são os setores com menores problemas de relacionamento de trabalho.

Além dos filhos não serem um empecilho para uma mulher retornar ao mercado de trabalho, profissionais que são mães podem ter mais facilidade para resolver problemas de equipe e driblar picuinhas de outros funcionários.

“Ah, mas ela vai faltar sempre, por causa da criança.”

Assim como ela poderia faltar por ficar doente ou ter qualquer outro problema. Para reduzir esse tipo de situação, uma boa sugestão seria repensarmos, enquanto sociedade, na quantidade de atribuições que essas mães têm e o que podemos fazer para mudar. Só assim teremos melhores divisões de tarefas e reponsabilidades mais equilibradas para homens e mulheres.

E como essa é uma discussão mais profunda, você pode começar a mudança na sua empresa com algumas reflexões, como:

  • Qual é o tipo de comportamento comum no meu negócio?
  • As pessoas têm uma relação de respeito ou de medo?
  • Estou tratando o outro com a educação e empatia necessárias?
  • Estou agindo como um exemplo para o(a) funcionário(a) que quero contratar?

Cabe denúncia?

Qualquer situação de discriminação, desde o anúncio de uma vaga até o momento da demissão, pode ser denunciada ao MPT. Após a apuração dos fatos e abertura para defesa, a empresa pode ser condenada ao pagamento de multas, pelo fato cometido e por reincidência, se for o caso.

Sei que você pode ter lido até aqui e pensado: “porque ela está falando sobre coisas tão óbvias, como respeito e educação?”. Acontece que, quando nos deparamos com atitudes tão absurdas em um momento que deveria ser especial – que é a contratação de um novo funcionário – é impossível ignorar a reflexão de que, às vezes, o óbvio precisa ser dito. E, de preferência, praticado.

E aí, você tem alguma dúvida que gostaria de ver respondida aqui na coluna?

Envie uma mensagem no meu Instagram ou um e-mail para [email protected], e eu terei todo o prazer em responder.

Aproveite e conheça meu trabalho em www.rebekaassis.com.br.

Bom trabalho e até semana que vem!

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)