“O crescimento da economia do Brasil em 2023”, por Robinson Guedes

Amigos leitores, estamos nos últimos dias de 2023 e, com isso, aproxima-se a confirmação do índice real de crescimento da economia brasileira ao longo dos últimos 12 meses. Esta é uma tradição no meio das finanças, em especial devido ao movimento de projeção que sempre permeia a época, afinal, como veremos hoje, já temos avaliações para 2024 e um saldo até satisfatório neste 2023.

Muito por ser o primeiro ano após o “novo normal”, criado em virtude da Covid-19, havia uma expectativa de alta da economia brasileira que, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deveria crescer em torno de 3%. Tal projeção está próxima de ser superada, visto que após a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) obtido no terceiro trimestre deste ano, a estimativa, que naturalmente carece do cálculo dos meses de outubro, novembro e dezembro, registrou alta de 2,92%, mesmo com um baixo crescimento de apenas 0,1% considerando os meses de julho, agosto e setembro.

Porém, o indicador que na frieza dos números é fraco, veio acima do esperado, já que o mercado imaginava uma queda próxima dos 0,3% no trimestre em questão. Isso, somado a uma queda da taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, e da inflação, deve nos levar a atingir números próximos a 3,1%.

Mesmo que baixo, o resultado é positivo, pois ainda estamos falando de um crescimento que surpreendeu boa parte dos economistas. Tenha em vista que os tais 3% sugeridos por Haddad no começo do ano foram criticados em favor de projeções mais negativas que apontavam crescimento inferior a 1%, caso do instituto Focus Economics, respeitada organização de análise e estatística global que, entre várias métricas, esperava um PIB médio de apenas 0,8% para este ano.

Contudo, tenha em vista que essa proporção de crescimento é, de certa forma, irreal, como veremos a seguir. Embora não seja plenamente impossível, esse crescimento não deve se repetir no ano que vem, pois, uma parcela dessa elevação é consequência de problemas vividos na Argentina que contribuíram grandemente para esse crescimento repentino.

Já em um país afundado em grave crise econômica, os produtores argentinos enfrentaram uma devastadora seca ao longo do terceiro trimestre, algo que impactou profundamente a produção de soja, um dos carros-chefes do país em termos de exportação. Com isso, o Brasil acabou ocupando uma razoável parte do mercado nesse nicho que, normalmente, é compartilhado com os nossos vizinhos platinos. Por isso, caso nada anormal aconteça e os argentinos tenham um rendimento normal neste eixo, a tendência é de que o nosso setor externo em 2024 não seja tão pujante quanto em 2023.

Fato é que, enquanto uma das principais potências econômicas do hemisfério sul, nós não podemos nos contentar com um crescimento mínimo impulsionado por fatores extraordinários. A elevação que deve ser superior a 3% é sim uma vitória importante, sem dúvidas, mas para estabilizar nossa balança financeira de forma real, precisamos investir e trabalhar com avanços reais, afinal, assim como no ano passado, a projeção inicial não é das melhores.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)