Como especialista em finanças públicas e mentor de empresários, tenho acompanhado de perto a dinâmica do mercado de trabalho brasileiro, e um ponto que merece nossa atenção é o desemprego de longo prazo. Os números recentes são alarmantes: 1,87 milhão de brasileiros estão sem emprego há mais de dois anos, o que representa 22,4% do total de desempregados. Esses dados mostram que, mesmo com indicadores econômicos apontando para uma recuperação gradual, há uma parcela significativa da nossa população que permanece à margem, incapaz de se reintegrar ao mercado de trabalho formal.
Essa situação tem implicações profundas não apenas para as pessoas diretamente afetadas, mas também para a economia como um todo. Do ponto de vista das finanças públicas, o impacto é evidente. Pessoas fora do mercado formal deixam de contribuir para o sistema previdenciário e de gerar receita tributária. Isso enfraquece as bases fiscais do país, ao mesmo tempo que aumenta a pressão sobre o Estado para ampliar programas sociais de assistência. Com menos pessoas empregadas formalmente, a arrecadação de impostos sobre o consumo e sobre a renda também diminui, criando um ciclo vicioso que prejudica o potencial de crescimento econômico.
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Ao observar mais de perto os grupos mais afetados por esse desemprego prolongado, percebemos que são, em sua maioria, mulheres, negros e moradores da região Nordeste. Esses segmentos historicamente enfrentam barreiras maiores para ingressar e se manter no mercado formal, o que reflete um problema estrutural que não pode ser ignorado. Como contador e professor universitário, vejo que parte significativa desse problema está relacionada à falta de qualificação adequada e à desconexão entre a educação e as exigências do mercado de trabalho atual. As empresas, cada vez mais, buscam profissionais com habilidades específicas e atualizadas, mas muitos trabalhadores desempregados não têm acesso a oportunidades de capacitação que lhes permitam atender a essas demandas.
Na minha trajetória como mentor de empresários, ouço com frequência sobre as dificuldades de contratação, mesmo em setores que estão crescendo. As vagas existem, mas faltam profissionais qualificados para ocupá-las. Isso revela um grande descompasso entre o que o mercado de trabalho necessita e o que nossa força de trabalho pode oferecer. Políticas públicas voltadas para a qualificação profissional são um passo importante, mas elas precisam ser articuladas com o setor privado, de forma que a formação oferecida esteja alinhada com as necessidades reais das empresas.
Outro aspecto que precisa ser destacado é o peso do desemprego prolongado na produtividade do país. Pessoas que ficam fora do mercado formal por longos períodos tendem a ter mais dificuldade de reintegração, não apenas por questões de qualificação, mas também pela perda de confiança e desatualização em relação às novas tecnologias e processos. Isso reduz a competitividade do Brasil no cenário internacional e desestimula investimentos em setores que poderiam gerar novos postos de trabalho.
Como especialista em finanças públicas, sei que os efeitos do desemprego prolongado se refletem diretamente nas contas públicas. A informalidade aumenta, a base de arrecadação diminui e os gastos sociais crescem, criando uma pressão insustentável sobre o orçamento do governo. O país acaba preso em um ciclo de baixa geração de empregos e crescimento econômico medíocre. Para romper esse ciclo, é preciso agir com políticas mais ousadas e coordenadas, que não apenas criem vagas, mas garantam que essas vagas sejam acessíveis para uma população que hoje se encontra excluída do mercado formal.
O caminho para enfrentar esse desafio passa por uma reforma profunda no modelo de educação e capacitação profissional. Precisamos de políticas públicas que incentivem a formação continuada e a requalificação dos trabalhadores, especialmente aqueles que estão fora do mercado há muito tempo. A criação de incentivos fiscais para empresas que investem em capacitação interna e contratam pessoas de grupos vulneráveis é uma estratégia que pode gerar impactos positivos tanto na empregabilidade quanto na produtividade.
Além disso, é fundamental que o governo e o setor privado trabalhem juntos para reformar o ambiente de negócios no Brasil, reduzindo a burocracia e os custos trabalhistas que hoje desestimulam a contratação. Micro e pequenas empresas, que respondem por grande parte dos empregos no país, precisam de mais flexibilidade para contratar, sem os riscos financeiros e jurídicos que enfrentam atualmente. Sem uma maior segurança jurídica e incentivos reais, muitas empresas acabam preferindo não expandir seus quadros de funcionários, mesmo quando há demanda.
Acredito que, para resolver o problema do desemprego prolongado, é necessária uma abordagem sistêmica e integrada. Não basta criar políticas isoladas. É preciso que a educação, a economia e o mercado de trabalho funcionem em harmonia, oferecendo aos trabalhadores as ferramentas necessárias para que possam se adaptar às mudanças rápidas que vêm ocorrendo. Quando falamos de desemprego de longo prazo, estamos falando de uma parcela significativa da população que, se reintegrada ao mercado, poderá impulsionar o crescimento econômico de maneira sustentável.
Em resumo, não há crescimento econômico robusto sem inclusão produtiva. Quando deixamos 1,87 milhão de pessoas fora do mercado por mais de dois anos, estamos não apenas negligenciando essas famílias, mas também prejudicando a recuperação e a competitividade do país. O custo de não agir é muito maior do que o esforço necessário para implementar as reformas e políticas que permitirão a reintegração desses trabalhadores. Somente com ações coordenadas e focadas em resultados poderemos transformar o atual cenário de desemprego prolongado e construir uma economia mais inclusiva e forte no longo prazo.
Robinson Guedes é Especialista em Finanças Públicas, Contador, Mentor de Empresários, Professor Universitário e Influencer.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal HojeDiario.com).