A morte de Manoel Ferreira da Silva Neto, de 33 anos, ocorrida na madrugada do último sábado (10), em Mogi das Cruzes, tem gerado comoção e revolta em toda a região do Alto Tietê, sendo destaque na imprensa nacional. Familiares denunciam que o homem foi abandonado por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) após sofrer um acidente de moto.
Ele foi encontrado morto horas depois, em uma área conhecida pelo uso de drogas, no distrito de Brás Cubas. A viúva, Nicole Santos Paião, de 28 anos, afirma que houve negligência e, possivelmente, homicídio.
O portal Hoje Diário conversou com Nicole (assista ao vídeo abaixo), que detalhou o que viveu desde o desaparecimento do marido até a descoberta de imagens que reforçam suas suspeitas. Além disso, o advogado responsável pelo caso, Doutor Roberto Rodrigues, comentou o andamento do inquérito.
Últimas Notícias
- Importante: Prefeitura de Mogi das Cruzes realiza mutirão de psicologia; veja detalhes
- Obra de mais de R$ 13 milhões: Prefeita de Mogi das Cruzes anuncia construção de unidade da escola CEMPRE em Taiaçupeba
- Família denuncia que homem foi abandonado por equipe do SAMU após sofrer acidente em Mogi das Cruzes; ele foi encontrado morto horas depois
Segundo a viúva, Manoel saiu de casa às 2h48 da madrugada do sábado (10) para comprar lanche. Horas depois, às 9h30, Nicole recebeu uma ligação da Polícia Militar informando que ele havia falecido, mas sem qualquer informação precisa sobre o local ou as circunstâncias da morte.
“Cheguei ao IML às 10h30, mas ele só chegou ao meio-dia. Ninguém falava onde ele tinha sido encontrado. Só depois do enterro comecei a buscar as câmeras da região e descobri que ele tinha sofrido um acidente próximo de casa”, relatou.
De acordo com Nicole, a família teve acesso a uma gravação feita por um morador da região do acidente, que mostra o atendimento do SAMU. Ela relata que, mesmo visivelmente desnorteado após a colisão, Manoel não recebeu a assistência adequada.
“Eles trataram ele como um nóia, como se fosse um desconhecido qualquer. Mas ele estava a três ruas da nossa casa”, desabafa.
Na gravação, um socorrista se recusa a usar o carrinho de transporte, afirmando que a vítima conseguia andar. Manoel aparece tentando subir na ambulância, machucado e desorientado.
Segundo Nicole, outras imagens mostram o momento em que ele é retirado da ambulância e deixado na calçada da avenida Anchieta, em Brás Cubas — uma área mal iluminada e com histórico de vulnerabilidade social.
“Ele não saiu correndo da ambulância. Ele foi deixado lá, jogado. Ficou de joelhos, sem forças. Logo depois, a viatura da PM apareceu, mas no registro da polícia consta apenas que ele foi encontrado morto às 6h”, contou.
O mais grave, segundo a viúva, é que o SAMU nega qualquer atendimento naquela madrugada.
“Eles disseram que não atenderam ninguém. Mas há filmagens que mostram claramente a presença da ambulância e a interação com meu marido”, afirma.
Além disso, a situação se torna ainda mais grave diante das lesões no corpo da vítima. Nicole afirma que, no momento do acidente, Manoel não apresentava ferimentos graves — o que é confirmado por registros feitos pela testemunha. Contudo, no caixão, o cenário era diferente: mãos machucadas, hematomas no rosto e um profundo ferimento na cabeça, de acordo com ela.
“Ele tinha um buraco na cabeça que não aparece nas primeiras imagens. Quando ele foi virado pela perícia, apareceu sangue no chão. Mas nas roupas dele não havia sinal de sangue antes. Isso mostra que ele sofreu algum tipo de agressão depois de ser deixado lá. Foi dentro da ambulância? Foi depois, por alguém que passou? Ninguém quer me dizer nada”, questiona.
Nicole afirma que mostrou as imagens no Setor de Homicídios da Delegacia Seccional de Mogi das Cruzes e que a delegada responsável teve acesso a um vídeo que mostra claramente Manoel sendo deixado no local.
“Mas disseram que só posso ter acesso ao vídeo no fim do inquérito. Eu quero agora. Não posso deixar abafarem isso”, disse.
Ao portal Hoje Diário, Nicole afirma que quer justiça e que não vai descansar até que os responsáveis sejam punidos.
“Ele não morreu de acidente. Não era para ele ter morrido. Eu podia estar cuidando dele agora. Mas estou enterrando o pai dos meus filhos. Isso não é só negligência. É crime. Não foi acidente! Foi homicídio! A minha dor ninguém vai tirar. Mas eu quero, ao menos, justiça. Para que ele descanse em paz, e para que ninguém esqueça o que fizeram com ele”, indagou.
Por fim, o advogado responsável pelo caso, Doutor Roberto Rodrigues, comentou o inquérito em andamento.
“Quando fui acionado pela família, me surpreendi ao ter acesso a imagens tão chocantes. Como advogado, vou auxiliar o Ministério Público (MP), pois é uma ação de titularidade do MP, mas vamos buscar ajudar a família na responsabilização. O que ocorreu com ele na viatura, no percurso? É inadmissível imaginar que um órgão público, criado para proteger, cometa uma atrocidade dessas com um ser humano”, declarou o advogado Rodrigues.
Em nota enviada à redação do portal Hoje Diário, a Prefeitura de Mogi das Cruzes esclareceu que o SAMU é um serviço do Governo Federal, cujo atendimento de urgência e emergência no município está sob a gestão do Cresamu (Consórcio Regional do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que envolve seis municípios. A operação do serviço é gerenciada pela organização social Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS).
O Cresamu informou que, diante da gravidade dos fatos, cobrou o afastamento imediato da equipe envolvida no atendimento — medida que já foi adotada — e determinou que todas as informações fossem disponibilizadas às Polícias Civil e Militar, responsáveis pela investigação nas esferas cível e criminal. O consórcio declarou ainda que o atendimento não seguiu os protocolos exigidos e reforçou que acompanha o caso de perto.
“O Cresamu se coloca ao lado da família nesse momento de dor e indignação”, diz a nota.
Já o INTS, responsável pela gestão direta dos atendimentos do SAMU, informou que abriu uma apuração interna e confirmou o afastamento preventivo dos profissionais envolvidos. A organização lamentou o ocorrido e afirmou que está colaborando com as autoridades para esclarecer todos os fatos.
Sobre informações específicas, como horários, protocolos e detalhes da regulação, o INTS destacou que, por se tratar de dados protegidos por sigilo de paciente, só poderão ser repassados diretamente às autoridades competentes.
A Polícia Civil segue investigando o caso por meio do Setor de Homicídios de Mogi das Cruzes. A família disponibilizou vídeos e fotos que serão fundamentais para esclarecer o que aconteceu nas horas seguintes ao acidente.