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“A nova face do tabagismo: do narguilé aos pods, o risco de uma geração com câncer”, por Doutor Jorge Abissamra Filho

Como oncologista, acompanhei nas últimas décadas um dado que sempre me deu esperança: a queda progressiva no número de fumantes. Campanhas de conscientização, políticas públicas e restrições à propaganda reduziram de forma significativa o consumo de cigarro tradicional no Brasil.

No entanto, essa vitória da saúde pública vem sendo ameaçada nos últimos anos pelo avanço de novas formas de fumar: narguilé, pods e cigarros eletrônicos. O que parecia uma alternativa “moderna” e até “mais segura” vem, na prática, reintroduzindo a nicotina e os derivados do tabaco entre jovens e adolescentes.

Pesquisas recentes mostram que o uso de cigarros eletrônicos e narguilés cresce em ritmo acelerado no Brasil. Muitas vezes vistos como produtos “sociais” ou “menos agressivos”, acabam sendo consumidos em grupo e com frequência maior do que o cigarro tradicional.

O marketing das indústrias, com sabores artificiais, embalagens coloridas e design tecnológico, seduz uma geração que não tinha contato direto com o cigarro. Isso cria a falsa sensação de segurança — quando, na realidade, estudos já comprovam que os riscos existem e são relevantes.

Os pods e narguilés não são isentos de risco. Eles contêm nicotina em altas concentrações, favorecendo dependência precoce, além de uma mistura de substâncias químicas nocivas. Já há evidências associando o uso desses dispositivos a: doenças pulmonares agudas: casos de inflamação grave dos pulmões (conhecidos como EVALI – lesão pulmonar associada ao uso de e-cigarros); doenças cardiovasculares: aumento do risco de hipertensão, arritmias e infartos em usuários frequentes; comprometimento da fertilidade: alterações hormonais e reprodutivas, ainda em estudo, mas já descritas em jovens usuários; doenças orais e gengivais: inflamações crônicas e maior predisposição a lesões pré-cancerígenas na boca; câncer: embora o tempo de uso ainda seja curto para revelar todos os impactos, já se reconhece o potencial oncogênico das substâncias inaladas, em especial para pulmão, boca, garganta e bexiga.

A diferença é que, em vez de uma geração que foi lentamente abandonando o cigarro, podemos estar diante de jovens que normalizam novamente o ato de fumar, apenas em novas embalagens. O resultado pode ser devastador: uma geração marcada pelo aumento de doenças respiratórias, cardiovasculares e, inevitavelmente, de câncer.

A história já nos ensinou que o tabaco, em qualquer forma, cobra um preço alto em vidas. Não podemos fechar os olhos para o fato de que narguilés e pods representam apenas a reembalagem de um velho inimigo.

Como oncologista, meu alerta é simples: se não mudarmos esse rumo, veremos em breve os reflexos na prática clínica — uma geração de novos doentes, vítimas de velhas consequências do tabaco em embalagens modernas.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal HojeDiario.com).