A Reforma Tributária, aprovada como a maior reestruturação do sistema fiscal brasileiro em décadas, é apresentada como sinônimo de simplificação, mas na prática impõe desafios de gestão, compliance e planejamento tributário que poucas empresas estão preparadas para enfrentar. O novo modelo cria o IBS e a CBS, tributos que substituem a atual lógica de PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS, com a promessa de reduzir a cumulatividade e uniformizar a cobrança. Para o empresariado, no entanto, a realidade será conviver até 2033 com dois sistemas simultâneos: o atual e o novo, o que amplia os custos de conformidade, eleva a complexidade operacional e aumenta os riscos de autuação por falhas de interpretação.
As empresas do Lucro Real serão as mais impactadas, pois terão de lidar com a apuração detalhada de créditos tributários, com a necessidade de rastrear insumos em tempo real e com a implementação do Split Payment, que retira delas a flexibilidade de usar os tributos como capital de giro. A nova exigência eleva a importância da governança fiscal, já que qualquer erro poderá representar perda imediata de liquidez. Se antes havia espaço para correções ao longo do prazo de recolhimento, agora a tributação ocorre no ato da transação. O Lucro Real passa a ser não apenas um regime mais técnico, mas um campo onde apenas empresas com planejamento tributário estruturado conseguirão prosperar.
No Simples Nacional, os impactos serão menos visíveis, mas não menos importantes.
Embora o regime seja mantido, o pequeno empreendedor que atua em cadeias produtivas poderá enfrentar dificuldades de competitividade, já que não gera créditos de IBS e CBS para os seus parceiros comerciais. Isso pode resultar em pressão para a migração de regime ou em perda de contratos. Além disso, o avanço da digitalização e da fiscalização integrada, com ferramentas como CIB e SINTER, exigirá mais profissionalismo das micro e pequenas empresas, que terão de se adaptar a um ambiente onde a informalidade se torna cada vez mais insustentável.
A grande provocação é que a Reforma Tributária não reduz a carga tributária de forma imediata; ela redistribui, reorganiza e exige maturidade. Não será suficiente pagar guias em dia. A sobrevivência e o crescimento empresarial dependerão da capacidade de enxergar a tributação como parte da estratégia de negócio, e não como simples burocracia.
A pergunta que fica é: quantas empresas brasileiras estão prontas para jogar esse novo jogo?




